O PRACINHA QUE NÃO FOI PRA GUERRA

Passava das 10:00h. Um soldado fardado acercou-se da cancela da entrada da fazenda e bateu palmas anunciando sua chegada.

Logo apareceu alguém indagando o motivo da presença do militar. Apeando, ele abriu a cancela e puxando o animal pelas rédeas perguntou:

- É aqui que mora Edson Barreto?

- Sim, é meu filho. Por que o senhor está perguntando?

- Ele está? Indagou o militar, naquela manhã de fim de julho de 1945.

- Ele está na roça com meu marido. O que o senhor quer com ele, perguntou?

- Senhora, sou do tiro de guerra e estou trazendo uma convocação para que seu filho se apresente para o serviço militar. Ele está sendo convocado para a guerra.

Como Edson não estava em casa, o militar orientou para que ele se apresentasse assim que possível na sede do tiro de guerra de Nazaré das Farinhas.

Enquanto o militar se afastava, aquela senhora olhou para as filhas e pediu que uma delas se apressasse para ir na roça a fim de avisar Edson sobre a convocação.

Tão logo tomou conhecimento, Edson apressou-se a dar ciência ao seu pai que trabalhava próximo dali com outros peões da fazenda.

Surpreso com a notícia, o fazendeiro parou o que estava fazendo e chamou o filho para retornar a casa.

Lá chegando, muniram-se de documentos, selaram dois cavalos e imediatamente pegaram a estrada de terra batida rumo a sede do tiro de guerra.

Tão logo chegaram e após identificarem-se e explicarem o motivo da ida, foram orientados a aguardar pois logo seriam atendidos.

Alguns minutos depois chegou um Sargento e, tomando conhecimento, explicou que a convocação partiu do comando geral do exército que mandou recrutar todos os homens acima de dezoito anos aptos a lutar pela pátria.

De nada adiantou seu Artur dizer que aquele era seu único filho homem, arrimo de família. Era questão de guerra. Necessidade de pessoal.

- Seu filho deverá se apresentar aqui no dia 1 de agosto para, com outros convocados, embarcarem para Salvador onde receberão treinamento a fim de compor a tropa que viajará para a Itália para participar da guerra.

Tendo se despedido dos familiares e se apresentado conforme determinação na data prevista, Edson juntou-se aos demais convocados na estação ferroviária a fim de aguardar o trem que os conduziria até São Roque do Paraguassú, estação final da rede ferroviária e de lá embarcariam em um pequeno navio que os transportariam até o porto de Salvador.

Viaturas do Exército aguardavam os convocados para conduzi-lo ao 19⁰ Batalhão de Caçadores onde receberiam treinamento intensivo a fim de prepará-los para combate.

Foram dias intensos de treinamento em situações diversas de modo a capacitá-los para o conflito com um mínimo de preparo.

Juntaram-se a outros recrutados de diversas cidades do estado da Bahia, compondo assim um numeroso grupo de homens que deveriam ser submetidos a preparação militar.

Eram selecionados conforme capacitação profissional e grau de escolaridade. Os que tinham nível superior recebiam patentes de oficiais. Os que se identificaram com alguma especialidade, sargentos e cabos Os demais, sem instrução ou qualificação profissional, soldados. Dessa maneira foi firmado o destacamento, estabelecendo linha de comando com outros militares experientes e de carreira.

Nos últimos dias de agosto, extenuados pelo intenso treinamento, receberam as últimas instruções e aguardaram a hora de serem conduzidos ao porto onde embarcariam em um navio que saira do Rio de Janeiro com escala no Espírito Santo e que atracaria em Salvador e em Recife para embarcar tropas que comporiam aquela demanda até a Itália.

Atracado em Salvador, o navio recebeu víveres, combustível, material bélico e o pessoal para a viagem.

Após terem embarcado, ninguém mais poderia deixar o navio. Agora era esperar a hora da partida.

Foram horas intermináveis. Ora nos alojamentos, ora na popa, a impaciência alternava-se com a saudade. Fumar um cigarro olhando o mar amenizava a agonia.

As espias rangiam em suave gemido conforme o movimento discreto do navio instigado pela maré, enquanto a prancha ia e vinha no cais, agarrada ao navio.

3 de setembro de 1945. Essa foi a data determinada para a partida do navio com destino ao porto de Recife e de lá para a Europa.

No dia seguinte todos estavam na expectativa da partida, porém algo estava acontecendo, retardando a saída do navio do porto.

Todos perguntavam o que estava acontecendo. Ninguém tinha a resposta. A ordem era aguardar.

Eis que logo uma determinação para que todos se reunissem nos locais previamente determinados no navio, e que os oficiais deveriam reunirem-se para deliberação das ordens recebidas. Logo todos dirigiram-se aos seus pelotões a fim de divulgar que não iriam mais viajar pois a guerra havia terminado.

A euforia deu lugar a surpresa e todos festejavam. Não precisariam lutar.

No entanto, conforme manifesto do Ministério do Exército, mesmo sem terem ido participar da guerra, faziam parte da Força Expédicionária Brasileira. E assim, todos foram dispensados e retornaram para suas casa.

O soldado Edson retornou para a fazenda dos seus pais exibindo com orgulho o uniforme de soldado do Exército. Um pracinha que não foi para a Itália participar da guerra.

Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 05/08/2022
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