Eu nunca disse as (terríveis) palavras que você merecia escutar

Ela virou o rosto, devagar, primeiro olhava para frente com o queixo afundado no travesseiro, agora observava a imensidão daquele quarto de motel barato. Havia se cansado daquele rosto, daquela mesma expressão, se tornara enfadonho. Ele não entendia, não via, continuava a acariciar-lhe as costas nuas.

“Não quero mais te olhar.”

“Que?” Ele não entendera, era uma frase um tanto estranha, nunca a ouvira antes.

“Não quero mais olhar para você.”

“Por quê?”

“Porque não. Não tenho muitas razões, se é que as tenho, só não quero.”

Parou de acariciar suas costas, ainda tentava entender o que estava sendo dito ali. Ela respirava devagar, inexpressiva, imóvel. Puxou-a pelo ombro, virando-a de barriga para cima, mas não adiantava, mesmo no teto espelhado ainda não olhava para ele. Escalou-a, ficando entre a cama e o espelho, olhando nos olhos. Esperou uma reação, mas nada aconteceu, era como se o peso daquele corpo não existisse, como se ainda contasse os ossos da costela pelo espelho.

“Queria conseguir fazer com você o mesmo que fez comigo.” Ela falou, depois de muito tempo, a voz calma, cortando como uma faca afiada.

“Como assim?”

“Queria te marcar do mesmo jeito que você me marcou, te machucar, mas da mesma forma. Daquela que deixa uma cicatriz incomoda, feia.” Uma única lagrima escorreu do olho esquerdo, devagar. Sabia do pânico que causaria nele, a vontade de correr, e nunca desejou tanto que o fizesse.

“Mas...” Tentou falar, balbuciando, sem saber o que responder.

“Não. Não quero que você responda nada, sempre piora.”

“Está cansada?”

“Não.”

Então ele a possuiu, beijando o pescoço, não havia nada mais a fazer.