DEUS CASTIGA OS "MÃOS-DE-VACA"

No início dos anos 80, bem jovenzinho e precisando trabalhar para ganhar uns trocados e, meu primo Mauro, igualmente adolescente como eu, também estava a procura de um serviço. Nessas nossas andanças, a gente estava já no desespero, foi quando um amigo do meu primo disse que um rapaz que tinha vindo há pouco tempo da Coreia, iria abrir uma grande loja de roupas no calçadão do comércio de nossa cidade. Seria uma loja muito sofisticada, com roupas caras para a "socielite" de lá. O coreano que mal falava o português, precisava de eletricistas para colocar as iluminações de "spots" em toda loja para dar destaques nas roupas grã-finas da sua clientela almofadinha. Só que ele era muito "mão-de-vaca" e queria pagar pouco para os eletricistas e ninguém queria trabalhar para ele , foi quando eu e meu primo aceitamos trabalhar como supostos eletricistas "juramentados e de ótima qualidade". Começamos o serviço no forro de gesso da loja. Num dado momento, meu primo derrubou o martelo lá de cima, fazendo um buraco no forro. Antes que o coreano visse, eu me propus ficar pendurado numa corda de cabeça para baixo, com meu primo segurando as minhas pernas para que eu disfarçasse o buraco com um papelão branco. Foi o que fizemos, mas não adiantou muito, pois o coreano quando chegou, começou a gritar com a gente com palavras em sua língua mater que achei que eram palavrões, mas como não entendia nada, nada também me tocou os possíveis impropérios sobre nossas pessoas. No decorrer da semana, o coreano falou para o amigo dele que queria ir na zona, pois estava na "seca", mas o amigo dele, também oriental, não conhecia nossa cidade e pediu para eu e meu primo ir com eles nas "casas das primas" e fomos com eles. Aqueles dois coreanos entraram sozinhos naqueles recintos deixando eu e o Mauro dentro do carro deles esperando a suas voltas e nem um guaraná nos deram para tapear o calor. Eu falei para meu primo, esses dois um dia irão se fuder, pois nos tratam como escravos. Eles, depois da "festinha", voltaram muito tempo depois e eu já não aguentava mais ficar ali, naquele lugar, sem direito a nada. Fomos embora e no outro dia terminamos o serviço da parte elétrica daquela suntuosa loja. Quando fomos receber pelo trabalho, o dono coreano, descontou o valor do conserto do buraco do forro de gesso do nosso salário. Eu e meu primo ficamos putos com ele, pois recebemos uma merreca. Saímos xingando em bom português aquele mocorongo.

Dias depois, estava assistindo o noticiário na TV que apresentava uma ecatombe no centro da cidade; um incêndio de grandes proporções numa loja chique de roupas finas. O calçadão do comércio todo parado e o Corpo de Bombeiros apagando aquele volumoso sinistro que não deixou sobrar nenhuma cueca ou calcinha para contar história. Era a loja do coreano, a qual trabalhamos como eletricistas. Liguei correndo para meu primo que, do outro lado do telefone, mal conseguia falar entre nossas exageradas gargalhadas.

Nunca ri tanto em minha vida!.. E o repórter ainda dizia que a causa do incêndio era desconhecida. Kkkk .. Depois disso, falei para o Mauro: será que estão abertas as inscrições no curso do Senai para eletricistas? Vamos nos inscrever? Kkkkk....