Das Minhas Lembranças 32

À noite, quando me deito, muitas vezes perco o sono, por conta do que pretendo escrever. É quando as ideias surgem. Tenho sempre um papel e uma caneta ao lado. Anoto o eixo da narrativa, para desenvolver depois. Acontece também de me levantar e escrever tudo que povoa o meu pensamento. Numa destas noites me pus a pensar nos dois nomes que deixei de citar no capítulo anterior. Rolava de um lado ao outro, tentei esquecer e cochilei. Como num sonho os nomes de Elizabete e Jader surgiram. O Jader, continuo inseguro sobre o nome. A Elizabete, não. Tivemos de nos esforçar, para trazê-la para chapa vitoriosa. Após muitas conversas, ela aceitou, mas sob a condição de ocupar um cargo, que não exigisse muito. Ela ficara viúva recente e se encontrava fragilizada. O Jader é filho de Dona Madalena, poeta analfabeta, que frequentava as reuniões e assembleias da ACBI. Jader, juntamente com a Dona Geralda e Dona Terezinha, eram os responsáveis pelo funcionamento do forró da associação nas noites de sábados. Pela venda de ingressos e colocar as músicas, extraídas de vinis.

Dona Madalena merece uma atenção especial. Como não sabia escrever, ela declamava os versos e os decorava. O gravador era a sua memória. Tive a lucidez de escrever um poema dela e publicar no Informativo ACBI. Enquanto ela declamava eu ia passando para o papel. Ela teve de repetir a declamação várias vezes. Se bem me lembro, pois não tenho mais os registros do informativo, eram do tipo cordel. Acho que é para isso que serve um boletim popular: divulgar o trabalho de pessoas como Dona Madalena, esses heróis praticamente invisíveis. No Informativo ACBI tinha também uma coluna Opinião, para que as lideranças local pudessem se manifestar.

No próximo capitulo vou contar como foi a nossa luta vitoriosa pelas melhorias do transporte coletivo. As assembleias foram de muita participação popular, com momentos de tensão.