Aprender sem decorar

Aprender deveria ser, sempre, uma atividade divertida. Dessa forma pensavam os gregos e a prova maior está nas palavras paidéia e paidia, derivadas do mesmo radical, paid, significando, respectivamente, educação e brincar. No princípio tudo o que se aprende tem esse sabor de brincadeira, e todos se divertem com o desenvolvimento do aprendiz. Não é assim quando se aprende a falar as primeiras palavras, ou ao dar os primeiros passos? A felicidade é geral, com aplausos e festas que só fazem estimular o pequeno aprendiz a repetir esses pequenos gestos, o que muito ajuda na conformação da aprendizagem.

Tudo vai indo muito bem até que a criança vai à escola. Lá o aprender já passa a ser uma obrigação e, por ser assim, tende a ficar chato. E poderia até nem ser, dependendo da forma como esse ensino-aprendizagem se processasse.

Bastava lembrar dos primeiros aprendizados. Ao aprender as primeiras palavras a criança recebe uma série de reforços que só a estimulam a falar mais e mais. E ela percebe o quanto facilita a sua comunicação com o mundo! Assim também é com o andar. Além da liberdade que passam a adquirir com o domínio do espaço, podendo explorar sozinhas os ambientes que antes dependiam da condução de alguém, os olhares e atenções se voltam para esses movimentos, que passam a ser aprovados e valorizados por todos. Tropeça aqui, cai ali, cai acolá, não importa. Hoje, esses simples primeiros passos, acabam nas redes sociais, mostrando o orgulho dos pais. Ou seja, o que vale mesmo é a ênfase nos pequenos movimentos, que se sobrepõem às quedas.

Na escola, infelizmente, nem sempre as coisas acontecem assim. Começa que muitas vezes se é observado no que se faz de errado, para ser punido por aquilo. Os olhos acabam se voltando para o erro e não para o acerto. As famosas reuniões de pais e mestres, pelo menos as do meu tempo, serviam muito mais para a transmissão de informações de comportamentos inadequados, de matérias a serem estudadas e menos para informar, por exemplo, os progressos nas artes.

O acúmulo de informações é a tônica da escola. Muitas delas passadas de forma mecânica, sem que o aprendiz compreenda a sua utilidade. No mais das vezes com uma aprendizagem meramente decoreba.

Veja só um exemplo. Ainda no ensino fundamental aprende-se o conceito de números primos. Passa o tempo, fica o aprendizado: são os números divisíveis por si e pela unidade. Desta forma, 3, 5, 7 e muitos outros, são chamados primos. Mas será que o “parentesco” está somente nisso? Que teremos que decorar a regra e já é o bastante? Já lhe ocorreu a pergunta, por que eles são chamados primos?

A palavra primo é de origem latina, que significa primeiro, que está na frente. E é exatamente por isso que tais números são assim chamados, porque estão na frente, são os primeiros de uma série. Veja-se: o número 2 é o primeiro da sequência que tem os números 2, 4, 6, 8 etc., ou seja, é o primo dessa série. Da mesma forma, 3 é o primo da que tem os números 3, 9, 15 e muitos outros mais. A regra vem depois desse entendimento. E, por ser o primeiro, só é divisível por um e por si. Simples, não é?

Misturar saber e sabor, dessa vez a lição vem do latim, com ambas as palavras originárias do mesmo radical, sapere, tornariam as aulas mais saborosas, tanto para quem educa, como para quem é educado. Saboreemos todos.

Fleal
Enviado por Fleal em 16/08/2022
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