Sobre os humores (Um tributo à Nietzsche e Cioran)

Por indulgência, perdoe minha pobreza gramatical.

Almas menos atentas não notariam que a tinta que rabisca estas palavras, não é a tinta da melancolia, nem a tinta da insônia. Seria uma tristeza muito grande e uma injustiça terrível desejar trocar o despertar repentino por algumas horas de sono profundo e improdutivo, e, são momentos assim que levaram Cioran a entender que em nenhum outro momento, existem tão poucas distrações (ele teve a sorte de viver uma era sem celular).

Agora são quatro horas da manhã e desde as duas fui despertado pelo vazio do mundo, e encontrei conforto para a alma em ausências! Ausência de uma criatura que estaria roncando ao meu lado (e ela ainda seria condenada, talvez injustamente, talvez com justiça, pelo motivo de o meu despertar). E é essa ausência que impossibilita que as asas da minha curiosidade sejam podadas antes mesmo de decolar voo ao acender a luz, ou ao buscar em paginas de livro ou paginas da internet, o eterno remédio inacessível a essa coisa desagradável que se instalou em mim.

Há um gato ronronando no meu pé e este ronronar é musica. Pombas conversam enquanto emporcalham o forro com a podridão de suas fezes e suas penas moribundas, um galo canta em algum poleiro distante. Na esquina da minha rua, escutam-se vozes e tossidas, e um ônibus barulhento insulta meus ouvidos, carregado da pobreza do mundo que ele motiva e transporta. Começa a chover agora, e o vento sacode a janela do meu quarto, entreaberta, fazendo um ruído desagradável que me faz levantar para fechá-la totalmente, de modo que não me importune mais.

Volto para a cama levanto-me novamente, procuro por um livro, O Livro do Filósofo, o qual não encontro e me frustro. Há nele um apêndice, “Sobre os Humores”, é essa sensibilidade que quero resgatar, mas minha falta de cuidado e organização me incrimina. Não há outra saída, entro no Google e obstinadamente busco por um portable document format, (PDF) e assim leio o texto que me acalma. Toda uma magia se faz e a chuva agora é uma praga, como se Nietzsche, debaixo da sepultura, atormentado por minha importunação e pela minha falta de respeito, lançasse uma tempestade para me castigar e eis que um raio explode meu coração, e o barulho do trovão chega como uma ordem violentando os meus tímpanos e reverberando minha alma. Esse estrondo é uma frase curta: “SÊ Renovado!”. Ouço isso, apago a luz e caio em sono profundo.

BILU
Enviado por BILU em 17/08/2022
Código do texto: T7584509
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.