"A Poesia de Quem Abre um Livro"

Eu voltaria na porteira do casebre, ajudaria a minha mãe a buscar água na mina, na ladeira da São Miguel Arcanjo, e ao voltarmos seríamos recebidos por nossa cadela Susi logo pela manhã, e admirando a enorme árvore de Santa Bárbara repleta de maritacas, entraria nos pomares do quintal, observaria a construção de tijolo e telha colonial, abriria a porta trancada com tramela, ligaria o rádio de pilha, ouvindo os Gargantas de Ouro (Milionário e José Rico), abriria uma das janelas para sentir o frescor de toda aquela natureza, suavizando como a poesia de quem abre um livro, aprenderia mais com os pássaros que possuem asas de páginas coloridas, assim como os livros multicores em que meu pai sem leitura, contava estórias baseadas nos desenhos. Esperaria a hora do almoço, quando minha mãe revirava a lata de banha, retirando os miúdos da mistura para fazer o mexido mineiro, contaria as horas da tarde pelo andar do sol, e logo ao anoitecer, a luz de lamparina inspirava os contos da minha mãe, nos fazendo acreditar que dentro de casa, brilhava uma estrela, além das estrelas do céu, e hoje ela nos segue aos 85 anos de vida, e se eu não puder melhorar as vírgulas do passado, pelos menos jamais colocarei ponto final no que nos deixou saudades...

Fins dos anos 70 para a década de 80!

Marco A de A Balbo
Enviado por Marco A de A Balbo em 24/08/2022
Código do texto: T7589372
Classificação de conteúdo: seguro