MOMENTO DA CONFISSÃO PATÉTICA

Sim... confesso que surtei!

E, na minha 'síndrome de Nair Belo' habitual, sem mais nem menos lembrei daquilo ainda agora e danei a rir... Sempre tive comigo que, quando isso acontece, é algum assistente 'do lado de lá' me provocando essas lembranças como 'cócegas espirituais', interessado em me fazer rir mais, levar a vida menos a sério!

 

Lembro que minha filha era bebê, e a pus no silêncio do quarto para dormir. No entanto, mal fiz isso, um vizinho de um apartamento fronteiriço ao meu pôs um funk para ouvir no último volume, estremecendo o prédio inteiro!

 

Muito mais nova então, o sangue me ferveu. Não hesitei e, numa atitude meio insana, corri para o meu som na sala e também pus música, a primeira que me caiu em mãos - um clássico ligeiro, pelo que lembro - também em volume quase máximo!

 

Me fez perder a cabeça o fato de, além do vizinho imbecil julgar que toda a rua deveria compartilhar o seu gosto por aquela música, ameaçando com aquilo acordar minha neném, ainda por cima tinha que ser aquela coisa horrível, aquela excrescência barulhenta que ainda hoje mal consigo admitir como gênero musical!

 

Naquele mesmo momento meu ex-marido telefonou. Atendi e, no meio daquela confusão, ele mal me ouvia. E eu, enfurecida, comecei a contar para ele em altos brados o que estava acontecendo.

 

Com aquilo, atarantado, pego de surpresa, ele, por sua vez, começou a berrar também do outro lado, tentando se fazer ouvir em meio à minha gritaria e a cena louca:

 

- Pelo amor de Deus, vai acordar a criança!! Pára com isso, baixa essa música!!

- O que pode acordar ela é esse funk desgraçado!! Coloquei ela no quarto, e agora esse cretino vai ter que engolir também a minha música!!!

- Pára com isso!!...

 

Naquilo, não percebi que um terceiro vizinho, irritado, também colocou um samba no último volume. Só notei quando, ainda fervendo de ódio, enfim desliguei o telefone.

 

A cena era de manicômio! O prédio estremecia naquela mistura súbita e sem pé nem cabeça de funk, clássico e samba estrondeando no volume máximo! E muito mais tarde, recordando, rindo não se sabe se de pena de mim mesma ou do ridículo da situação, imaginei o que o resto do prédio pode ter pensado do que diabos estava acontecendo naquela tarde!...

 

O fato é que, ao enfim voltar a mim mesma, desliguei a música e, pé ante pé, fui ao quarto, certa de que encontraria minha filha desperta e chorando num berreiro.

 

Entreabri a porta e espiei...

 

Dormia a sono solto!

 

Meia hora de inferno depois, notei que nos apartamentos vizinhos o do funk tinha enfim desligado a excrescência, e só o do samba ainda ouvia sua música, em volume um pouco mais baixo...

 

E entendi que, na situação estapafúrdia, a única que esperneou como neném, fazendo um berreiro, tinha sido eu mesma!...

 

Fim da confissão patética!

 

Boa semana!

🤪😉

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 27/08/2022
Reeditado em 27/08/2022
Código do texto: T7592130
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