Tenho um caso de amor. Julguem-me. Parece ousadia abrir o coração num site onde a esmagadora maioria descreve amores em manifestações poéticas, como deleites perfeitos e, traduzindo emoções em quadros de molduras que são mais bonitas que as próprias imagens.

Esse caso começou faz um bom tempo. No início foi atração. Sabe aquela ideia de estética que cabe numa selfie sem a necessidade de usar os atributos de filtros, tão fundamentais na atualidade que viraram "febre" e rendem milhões para os patrocinadores de software? Pois é... Era olho no olho. Apesar de não achar que o nome tivesse relação com a imagem, fui atraída, sem oferecer resistência. Era pegar ou largar.

Logo depois, as verdades começaram a pipocar, em flashes que revelaram a imperfeição natural de um humano: "Conheça-te a ti mesmo", e socrasticamente, era preciso aceitar que nem tudo que reluz é ouro, às vezes, é apenas um vaga-lume fêmea tentando atrair um parceiro para a morte: mimetismo fascinante.

Então a atração parece ter dado lugar para uma espécie de observação metódica e complexa entre o que se espera e o que se vê. Paixões são ofegantes, mas cansam. Daí o esquema é outro: cabe amor numa cápsula?

A carência afetiva, a liberdade e a busca do prazer nos levam para caminhos sinuosos. Mas quando a porta se fecha, é você e o que sobrou do último encontro: uma taça de vinho, um prato raso e um espelho.  E quando você olha no espelho: olhos fundos, cansaço profundo, ansiedade nível hard e uma noite silenciosa (exceto o som dos sugadores de sangue por picadas).

Diante do cenário propício, decidi ter um caso. Ah, e já que o revelei, porque não dizer seu nome: Melatonina! Que suplemento! Uma experiência sublingual única e inenarrável. A versão ação prolongada então... Ufa! Meu relógio biológico agradece... Love's forever! Que noite...

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 30/08/2022
Reeditado em 30/08/2022
Código do texto: T7594401
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