O filósofo se prende à compreensão do real. O seu maior desejo seria que “as coisas estivessem em ordem”: que a natureza fosse respeitada e cultivada, que a ciência se colocasse ao serviço da verdade, que o urgente se subordine ao necessário, que a política se funda no bem comum, que os jovens respeitem os idosos e estes tenham a sabedoria de vida necessária para lhes mostrar o caminho. Se as coisas fossem assim, só seria possível contemplar, compartilhar e adorar um mundo "quase" perfeito... 

 

Mas nada disto acontece: a natureza é devastada; a ciência coloca-se ao serviço das ideologias de plantão; a política serve o poder do mercado, os jovens desentendem-se dos pais idosos e os adultos querem viver como adolescentes. Portanto, o filósofo precisa, mais uma vez, voltar para a caverna. Ela não projeta mais as velhas sombras, mas Netflix e Disney +. Mesmo para nós, a tentação está na ordem do dia: “não será melhor ficar para assistir a um jogo da Champions”. Fico com angústia em pensar que quase não restam palavras que comovam, que possam abalar os outros de sua letargia.

 

No entanto, talvez os acorrentados de hoje em dia só queiram, por um instante, pelo menos, sentir-se ouvidos e valorizados; talvez a verdadeira libertação passe pela disponibilidade para a escuta; talvez então o melhor seja sentar-se do lado (olhar para as p ersonas e não para telas) e oferecer, não nossos discursos, mas o próprio tempo e compreensão. Uma atitude que, sem recorrer às palavras, possa dizer ao outro: você me importo com você...