Lidar com aquilo que representamos não é nada fácil. É lidar com nossa existência na opinião dos outros, é, consequentemente, uma fraqueza peculiar da natureza humana, mas tal coisa não é essencial para nossa felicidade.

É difícil explicar e compreender o quanto cada um se alegra, interiormente, todas as vezes em que percebe sinais de aprovação ou de opinião favorável dos outros, ou por ter sua vaidade devidamente adulada. Infalivelmente o deleite transparece na fisionomia humana diante de elogio, mesmo quando o elogio seja mera mentira palpável. 

É aconselhável colocar-lhe limites e, por meio de justa ponderação e apreciação escorreita do valor dos bens, moderar tanto quanto possível aquela imensa suscetibilidade diante à opinião alheia não só quando esta é injuriada, pois ambas tendem para o mesmo lado. Do contrário, serás escravo da opinião alheia. Deve-se ter uma apreciação sensível e escorreita do valor daquilo que se é em si e para si mesmo.

Recordemos que aquilo que somos para outrem é terreno da consciência alheia, é a representação sob a qual nesta aparecemos, juntamente com os conceitos que lhe são aplicados. É algo que não existe imediatamente para nós, mas somente de forma indireta, vale dizer que na medida em que determina a conduta dos outros para conosco.

Realmente, o valor que damos à opinião alheia e nossa constante preocupação com esta, ultrapassam, via de rega, quase toda expectativa racional, de modo que deve ser mesmo inata. Sendo assim, quem atribui um grande valor à opinião alheia presta-lhe demasiada honra.

Mas, honra, brilho, posição e glória, por maior valor que lhe sejam atribuídos, os homens, não podem competir com bens essenciais nem os substituir. Até se fosse o caso, jamais hesitaríamos em substituí-los uns pelos outros.

Por isto, é de grande contribuição para nossa felicidade perceber que que cada um vive, antes de mais nada, em sua própria e não na opinião de outrem, e que, e conformidade com isso, nossa condição real e pessoal, tal como determina a saúde, temperamento, capacidades e rendimentos são, muitas vezes, importantes para a nossa felicidade do que aquilo que aos outros agrada fazer de nós.

Não há honra acima da vida. A existência e o bem-estar não podem ser revogados. Respeite a opinião alheia, mas não se torne um vassalo.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 12/09/2022
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