Da dor a consciência

Era final de julho, e o frio se despedia.

Uma viagem, não desejada, mas necessária.

Com toda preparação e dúvidas, ela foi se materializando.

Já, devidamente acomodado na poltrona, com bastante espaço,

olhava pela janela, aguardando o momento da partida.

Então, fomos ao encontro do nosso destino.

No percurso, houve algumas paradas, para novos passageiros.

Depois de várias paradas, havia uma multidão, limitando o espaço e tudo mais.

Ao meu lado. uma senhora grande assentou-se, com uma criança ao colo.

Fiquei restrito a meio assento, tornando o trajeto proximo do insuportável,

e conforme a paisagem trocava lá fora,

dentro eu começava a aceitar minha condição,

e todo incômodo começou dar lugar a uma consciência.

Antes do término da jornada, minha acompanhante havia descido,

em seu lugar, uma pessoa que não invadia meu espaço.

Já no destino, me peguei a pensar sobre as semelhanças entre esta odisséia e uma dor.

Quando tudo esta "bem", não analisamos o quanto a ausencia de algo "ruim" é saudavél.

Quando uma dor, nos aperta o coração, o sentimento de incômodo nos invade,

Tira nossa capacidade de sermos completos, nos deprime, e nos empurra para baixo.

Mas com a resiliencia, seguimos dia após dia, tentando nos ajeitarmos, da melhor forma, no "meio banco".

A dificuldade da jornada com nossa acompanhante se faz latente,

mas como os kilometros, os dias vão passando, e a capacidade de nos adaptarmos faz efeito.

E, caso esta "dor" cesse, e pequenas dores do cotidiano venham surgir,

como o "segundo acompanhante", não no trará demasiado infortunio.

Cocluindo, foi necessário perder o "espaço", "paz", para que entendesse o que tinha, e não valorizava.

Novas "viagens", "dores" irão surgir, então me ponho a pensar:

Sou feliz?

Sou senhor do meu "espaço", "paz"?

O que tenho agora? que não enxergo, precisarei perder, para valorizar?

Quanto da "vida" está no antes, durante e depois?