Bolas e Balas

Ali sozinho na areia do parquinho abandonado, ele brinca com sua bola imaginária. Descalço, corre como a se desviar de adversários, mira num ponto e chuta a areia molhada, segue o olhar numa curva e olha para o canto perto da calçada, abre um sorriso gostoso e os braços como para um abraço apertado que se dá em quem há tempos não se vê, sai correndo e gritando “Goooooool!”.

Fez da situação tão verdadeira, que eu juraria ter visto a bola imaginária na sua curva impecável entrando no ângulo. Gol de fazer inveja em Kakás e Robinhos.

De minha boca foge um sorriso, com uma tranqüilidade repentina termino de atravessar a rua e sigo meu caminho.

Crianças me fazem sentir paz, igual à paz que esse menino me passou em poucos segundos de observação, paz que sente pois não se preocupa - já que desconhece - com a morte de um menino ontem, naquele mesmo parquinho abandonado, vítima de uma bala perdida.