Um Pouco Sobre o Filipe

Por Nemilson Vieira de Morais (*)

Do nada ele apareceu a nós (do Luar), já numa fase adulta da vida. A ideia de denominá-lo com um nome humano partiu do amigo Aquiles (Quiqui), de 5 anos, que o passou a chamá-lo de "Filipe".

... Tornou-se amigo das crianças ao cair no gosto de alguns da comunidade escolar (o cão e o nome). Esses alunos da Escola Itália G. Franco, o ama. É tratado respeitosamente pelo nome de "batismo", que Quiqui o deu. Dão-lhe carinho, afagos...

É um cão rajado, com listras por toda a extensão do corpo (levemente pretas e alaranjadas). Não há notícias na localidade, dele ser de alguém.

Deveras um vira-lata, mas muito bondoso, inteligente e fiel.

Antes de o conhecermos, Felipe vivia por aí largado, em vias públicas; com a barriga nas costas, a revirar sacolas de lixos, comer uma coisa e outra que achava, em alívios da fome.

Ele e o Juninho são bons amigos: o comerciante o atendia (e ainda o faz) num naco de pão, ração, água, carinho e até num remédio ao ser preciso.

Dias atrás quando o Filipe adoeceu de uma pancada que sofreu na coxa, Juninho o acolheu e a vizinha até fez uma casinha de madeira para ele. Ficou um tempo sem poder andar, correr, brincar...

Agora bem melhor da saúde, nem se importa tanto com essa moradia improvisada que deram a ele; mas, do acolhimento dispensado quando mais precisou, não. Volta sempre ao local que recebeu: atenção, cuidados numa gratidão há prestar.

Após o incidente andava com dificuldade com aquela perna direita suspensa como se estivesse fraturada. Dava dó de vê-lo naquele estado.

Ainda bem que nunca foi abandonado por Juninho (que cuidou do pobre animal como pôde).

Finalmente começou a firmar o dito pé no chão, aos poucos e hoje já está bem. Voltou a andar quase como antes.

Filipe não quer me largar e vai a pé todos os dias comigo, às compras na "Pão do Céu", em Belo Horizonte.

No café da manhã na padaria, lhe ofereço uns pães de alho, de creme e ele me agradece me dando uma mão e depois a outra. Além de dispensar a mim: o carinho e a companhia de sempre.

Viajei e, fiquei quase 2 dias sem ver o Filipe; hoje ao aproximar-me do mercadinho do Juninho ele veio, agarrou a minha mão com a boca e me levou ao local onde fora cuidado.

Faz dó ter um cão na cidade: pela pouca opção de suas atividades...

Eu nem me importo mais quando Filipe se põe a correr atrás dos gatos. É uma brincadeira que ele quer... Com certeza não deseja machuca-los creio; é mais para assustar. Um jeito de gastar suas energias, entreter-se em sua difícil vida de cachorro.

No início vivia implicando (assustando) a minha gatinha Escaladora, mas, hoje são bons amigos.

Filipe não têm muito o que fazer. Só come, bebê e vive na maior parte de sua vida a dormir. Sonha a correr atrás dos gatos e, a gente ouve dele um grunhido abafado...

É um cão muito admirável pelo seu comportamento: não late e nem avança nas pessoas para morder, não vive a correr (latindo) atrás de motos, carro; defende animais e gente em eventual ataque a estes. Não incomoda o sono de ninguém com latidos intermináveis à noite...

Ama de paixão fazer amizade com as crianças...

... E Costuma levar alguns trabalhadores (as) do bairro ao ponto de ônibus no Céu Azul. Vai e retorna ao seu reduto.

... Outro dia os cães de Dorinha deram em cima da Escaladora (minha gatinha) que fazia umas necessidades em suas areias.

... Filipe como um raio, compareceu por lá em sua defesa. Apaziguou a questão: ao fazer uma barreira entre eles e ela.

É sempre assim: ao vê-lo num fuzuê qualquer pode saber: é para separar, proteger, jogar uma água fria nos ânimos e nunca para agredir, maltratar quem quer que seja.

Dia seguinte foi a vez do carteiro: ao ser atacado pelos mesmos cães de Dorinha o (Dólar e outro) Filipe correu e cercou os bichos e defendeu o trabalhador que entregava suas correspondências.

No dia em que esses cães que citei acima e outros, tiraram a vida de um indefeso gato ele não compartilhou com eles da perversidade.

Não sei o (s) motivo (s) de Filipe não ter entrado na confusão e nem feito algo em prol do pobrezinho do felino, naquele dia.

... Apenas deu uns latidos alternados; ruru, ruru... como que, desaprovando tal ação.

Certo que meu amigo cão já caiu na graça de muitos em nossa rua... tornou-se o centro das atenções.

Só um rapaz do lote grita com ele: o Guedes. Com um pouco de razão: houve um desentendimento de Filipe com Betouven, seu cão (por questões de território) e se agarraram em briga e a coisa ficou feia.

... Porque se for para brigar o Filipe não é de correr não. Por isso o jovem vive nessa implicância com ele.

Aos poucos as coisas se ajeitam e Filipe ganha uma melhor qualidade de vida.

*Nemilson Vieira de Morais,

Gestor Ambiental/Acadêmico Literário.

(16:9:22

Nemilson Vieira de Morais
Enviado por Nemilson Vieira de Morais em 17/09/2022
Reeditado em 21/09/2022
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