Os tropeços nas rolhas das champanhes

Os membros do Conselho Paroquial tiveram atendimento exclusivo na agência bancária naquela manhã. O considerável depósito era resultado dos festejos em homenagem à Padroeira.

Desempregado, Everaldo resolveu sacar a pequena quantia que restava em sua conta bancária e partir à procura de um novo emprego. Surpreendeu-se ao ver o valor existente. Mas tirar tudo de uma vez levantaria suspeitas. Um pouco por dia era a solução. Enquanto isso comemoraria tomando champanhe. Não é isso que os ricos bebem?

O erro veio à tona oito dias depois quando o banco avisou a paróquia que não havia saldo para os cheques que estavam chegando (pagamentos de fornecedores). Só então descobriram que o valor havia sido depositado em outra conta. 4169-3 e não 4196-3. Equívoco do caixa ao preencher o depósito.

- Caso de polícia, concluíram.

- Não há necessidade! Disse o pároco. É só explicar a ele que o dinheiro é da igreja. Ele vai devolver, disse. Como ninguém concordou com sua opinião, pediu para acompanhar a abordagem policial.

Everaldo alegou que aquela quantia era acerto trabalhista e, sem provas diante do exposto pelo delegado e um agente, tentou evadir-se. A luta corporal foi inevitável e alguns móveis mudaram de lugar.

- Sem violência, implorava o padre. - Pelo amor de Deus!

Um dia após a cirurgia, o padre disse aos visitantes que, dos males o menor.

- Recuperamos quase tudo. Ao tentar evitar o confronto, caí e quebrei uma clavícula.

E concluiu com um sorriso nada inocente: - Ele não devia ter jogado todas as rolhas das champanhes no chão.