Decisão, decididos e indecisos

 

          Votar bem é querer ter maior e melhor qualidade de vida. Sobretudo, novas esperanças sobre isso que está, a olhos vistos, indo embora... E talvez votar para que os bens, que o leitor pressente, em sua terra, estendam-se à sua casa, à família, aos outros, permaneçam e prosperem. Repito, a decisão deve ser baseada em assegurar e conseguir, coletivamente, o Bem Comum, qualidade de vida, quiçá isso com consecução em anos e tempos futuros.
          Tal decisão pessoal acarrete benefícios coletivos, especialmente às crianças, durante seus remotos futuros, e também indistintamente ao povo. Aos milhões que, sem teto, passam fome e não têm onde trabalhar, por falta de políticas públicas que, quanto a isso, tragam outros resultados. A eleição, otimistas sejamos, é a oportunidade em que haveremos de conquistar bons e novos destinos. Como sermos indiferentes a essa esperançosa circunstância?
          Aproximam-se as possibilidades dessa opção, acusa o calendário, como se fosse o tempo que passa e não volta mais. É claro que acontecerão outros processos eleitorais, mais adiante, depois de quatro anos, repetem-se, mas nunca passarão as mesmas águas do rio de agora. Haverá outras candidaturas, outros eleitores e sobretudo outras situações, que poderão ser melhores ou piores, especialmente se o voto for mal dado. Frustrante e cansativo é constatar que tantas pessoas, ainda que capazes de refletir, percam a capacidade ou a oportunidade de bem decidir.
          A decisão (em grego proairesis) corresponde, segundo os aristotélicos, à escolha. Ou seja, o momento conclusivo de se deliberar a adesão a uma das alternativas possíveis. Nas palavras do filósofo Aristóteles, a escolha se define como uma “apetição deliberada a coisas que dependem de nós”. Também para outros filósofos, a decisão se torna entendida como um ato de discriminação ou de discernimento dos possíveis ou de adesão a uma das alternativas possíveis ou realizáveis. Nesse sentido, não se escolhe uma alternativa impossível, simplesmente como uma ordenação ou manifestação da mera vontade. Heidegger arremata que “a decisão é o projeto e a determinação clara que, cada vez, abrem possibilidades efetivas”, o que significa a “decisão autêntica” de que devém uma possibilidade existencialmente feliz e de sucesso, ou seja, exitosa.
          Há vários caminhos e talvez um só a ser escolhido... Decidir bem, a poucos dias da eleição, não deve ser uma preocupação, mas sim, já já, uma ocupação que garanta dias melhores para o leitor eleitor e para nosso povo, especialmente aos que faltam condições de sobrevivência. O seu voto, sem algum  preconceito, não deve fazer parte da crise ética e dos nossos valores, o que ameaçaria nossa cultura e o futuro bem-estar do nosso país. A ignorância quanto ao valor do voto não se tipifica como inocência, mas como quase crime, pelo mal que ele proporciona. Contra eventuais preconceitos religiosos ou ideológicos, cito Alain (Émile-Auguste Chartier), em Considerações sobre a Felicidade: “Ninguém tem escolha: todos em marcha e todos os caminhos são bons. A arte de viver consiste, antes de mais nada, parece-me, em não brigar consigo mesmo sobre a decisão que se tomou ou o ofício que se exerce”. Fora disso, fugindo das complicações da decisão, vem Ovídio, em Tristes, III, 4, 25: “Quem se esconde bem vive bem, e cada um deve manter-se no limite da sua fortuna”.