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Era um lugar gigantesco e não havia nada nele.

Exceto, à terra do chão - que poderia ser areia - e muitas pessoas andando para uma mesma direção.

Elas caminhavam vagarosamente e cada uma carregava uma cruz.

Embora todas fossem grandes, o tamanho variava de acordo com o indivíduo.

Quando ficava muito pesado, alguns arrastavam a cruz; às vezes, paravam para descansar um pouco e logo continuavam a caminhada; sempre para a mesma direção.

Em determinado momento de descanso, um indivíduo - ao invés de continuar a caminhada - olhou para os céus e perguntou:

-Meu Deus! Essa cruz é muito pesada; será que eu poderia cortá-la?

Teve uma resposta positiva para sua pergunta e antes que fosse questionar com o que iria cortar, um objeto apareceu repentinamente ao seu lado.

Assim, se pôs a cortar a cruz; cortando um pedaço da parte de baixo.

Agradeceu com um sorriso no rosto e seguiu o caminho.

Outros já estavam vindos atrás; também carregando cada um, uma cruz.

Após mais um tempo e alguns quilômetros caminhados, o mesmo indivíduo num outro momento de descanso, perguntou se poderia cortar mais um pedaço, pois, ainda estava achando muito peso para carregar.

Mais uma vez a reposta vinda dos céus foi positiva e dessa vez, nem se preocupou em saber como cortaria; olhou para o lado e viu o mesmo objeto surgir milagrosamente.

Cortou mais um pedaço da parte de baixo e quando pensou em continuar a caminhada após erguer a cruz, a colocou no chão novamente, olhou para o céu com um ar desconfiado, e começou a cortar todas as partes.

A parte de baixo - que era muito mais comprida - ficou do mesmo tamanho da parte de cima; sem contar as laterais, que ficaram bem rentes a madeira central.

Levantou a cruz e percebeu que estava levíssima; sem comparações com o fardo que carregou por muito tempo e lhe causara incomodo muitas vezes.

Teve um sentimento estranho, mas, como se beneficiava, apenas se pôs a caminhar novamente, após agradecer com um largo sorriso em direção aos céus.

Não era possível ver um horizonte e nem nada para a frente; apenas, mais e mais terra para percorrer.

Após mais um tempo caminhando, as pessoas se depararam com uma fenda no chão; era muito profunda, pois, não se via o fundo e também não era possível dar volta para evitá-la.

As pessoas estavam assustadas e não sabiam como prosseguir o caminho; além do medo de cair no precipício.

Dos céus, se ouviu que deveriam usar apenas a própria cruz para fazer a travessia.

Sendo assim, as pessoas usaram a cruz como se fosse uma ponte para atravessar a grande fenda.

Quando se deparou com o precipício, o indivíduo que cortou a cruz para ter uma caminhada aliviada, percebeu o equívoco que cometera ao aliviar sua própria jornada.

Sua cruz era curta demais para ser usada como ponte, e não tinha mais comprimento para alcançar o outro lado da fenda.

Ele e outros tantos que tomaram da mesma ideia e decisão, entenderam ali, que nada acontece sem um porquê; e tudo que nos é imposto sem que possamos mudar, é algo que deve acontecer por algum motivo que desconhecemos.

Não existe existência sem sofrimento; e viver implica irremediavelmente em lutas diárias pela sobrevivência.

Gerando alegria pelas conquistas, e tristezas pelas perdas e insucessos.

Existirão caminhos que terão de ser percorridos e acontecimentos que fugirão do alcance, e não pergunte o porquê; apenas entenda que certas coisas, do modo que ocorreram, tinham que acontecer.

A existência até o dia do fim, será cercada de alternâncias; onde o indivíduo que não souber aproveitar os momentos de alegria, sofrerá com maior intensidade nos momentos de dor.

Num apanhado geral disso tudo, é nítido que por mais doloroso que alguns momentos possam nos trazer, ainda é um grande privilégio viver.

*inspirado numa parábola de um antigo vídeo cristão; complementado e aprofundado de acordo com minha visão.

Edu Sene
Enviado por Edu Sene em 28/09/2022
Código do texto: T7616015
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