Como anda sua Ética?

Ética, sf: 1 Parte da Filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana. É ciência normativa que serve de base à filosofia prática. 2 Conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão; deontologia. 3 Med Febre lenta e contínua que acompanha doenças crônicas. Ética Social: Parte prática da filosofia social, que indica as normas a que devem ajustar-se às relações entre os diversos membros da sociedade. (Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, São Paulo, Melhoramentos, 1998.)

Eu pensei em começar esse texto falando sobre a importância da ética na profissão docente. Mas lembrei de um amigo filósofo que discorria horas sobre Ética, falava da Grécia antiga, da mitologia, e discorria por vários filósofos, e não acabava mais! Então pensei que para ficar clara a visão de ética que quero abordar, aviso que é à Ética Social que me refiro, à última das definições acima. Aquela que passa por valores como honestidade, verdade, fidelidade, lealdade, sinceridade e outros semelhantes.

Pensei que poderia iniciar dizendo que na nossa sociedade esses valores parecem estar decaindo. Mas considerei que se há tantos séculos os seres humanos buscam estudar a ética e a moral, provavelmente essa busca sempre foi importante e árdua. Lembrei-me das minhas aulas de História, da Inquisição, das Cruzadas, das guerras, dos descobrimentos, do colonialismo, da Revolução Francesa... e percebi que nossa sociedade não é mais corrupta do que as de outros tempos, e que sempre houve pessoas que colocavam seus valores e princípios acima de tudo, enquanto outras eram marcadamente cruéis, homicidas, mentirosas, e tantas outras coisas que são o oposto a uma sociedade ideal.

Nós, na escola, procuramos criar um mundo o mais próximo possível de uma sociedade igualitária, justa, sem preconceitos, onde haja respeito mútuo, aceitação e tolerância. Tentamos ensinar aos nossos alunos meios socialmente aceitos de resolver conflitos, de dividir e compartilhar, de pedir e retribuir. Isso porque consideramos que essas são as atitudes básicas necessárias para convivência numa sociedade harmoniosa.

Esforçamo-nos por ser modelos (pelo menos dentro da escola) de atitudes equilibradas, educadas, aceitáveis. Desencorajamos agressões e disputas, e incentivamos a formação de laços de amizade apoiados no respeito ao outro,

Essas são, sem dúvida, funções importantíssimas da educação, e objetivos a serem perseguidos incansavelmente por nós, professores. Mas incomoda-me pensar: e nós? Somos nós os adultos em que sonhamos que nossos alunos se transformem? Pautamos nossas relações pessoais pelos mesmos padrões que são nossos objetivos para nossos alunos?

Penso em várias situações para me testar: no trânsito caótico após um dia cansativo de trabalho, na fila do banco quando estou atrasada, na conversa com a vizinha que me pega no portão e não pára de falar, no telefonema da instituição de caridade pedindo contribuição, nos meninos esfarrapados nos semáforos, no dia de eleição, na discussão com o marido, no barulho do vizinho quando quero dormir, na relação com os colegas de trabalho... concluo que é mais fácil ensinar aos meus alunos do que viver pelos padrões que tenho ensinado!

Penso que, para o bem de todos, as pessoas em toda parte deveriam se guiar pelo desejo de construir um mundo cada vez melhor. Penso que freqüentemente ajo corretamente enquanto vejo outros que não o fazem. Mas o que me incomoda mais é que não podemos ser pessoas comuns! Sendo professores, temos que ter um cuidado maior, redobrado. Somos agentes de mudança da sociedade, mais do que outros que não assumiram a tarefa de educadores. Assusta-me a responsabilidade. Mas encanta-me o desafio. Temos que ser melhores ainda, pois embora mudar o mundo não dependa só de nós, uma grande parte do trabalho está em nossas mãos: o trabalho de sermos cidadãos-modelo, educando através da nossa atitude!

Essa é a nossa busca.