Das Minhas Lembranças 43

Iniciamos o Intercâmbio, boletim do Grupo Oficina de Sonhos com o número zero, para que, à partir do número 1, o formato e os conteúdos fossem definidos. Como a repercussão foi boa, modificamos pouca coisa. E de novo recorremos ao chargista Berzé, para a diagramação, no que fomos prontamente atendidos. Assim, lá pelos idos de 1998, o número 1 ficou assim:

O VIZINHO É O PARENTE MAIS PRÓXIMO

José Estanislau Filho

Bom é viver em harmonia com o vizinho. Afinal, estamos ali juntinhos, parede-meia, um socorrendo o outro na hora das necessidades.

- Laura, me empresta dois reais para comprar pão e leite, que acerto depois.

- Simone, a alfavaca é um santo remédio para os rins.

- Eliana, você protege a minha casa durante a minha viagem de férias?

- Claro! E águo as plantas com o maior prazer, Sandra.

Bom vizinho é assim: sempre pronto para praticar a solidariedade, fazendo nascer e fortalecer as amizades.

Um remédio caseiro, uma receita de bolo, uma ferramenta emprestada e devolvida, uma muda de planta, um jogo de truco... Seis! Ladrão!... Uma palavra amiga, de consolo. E por aí vai.

Todavia nem sempre é assim. Às vezes um quer levar vantagem, dar uma rasteira, tipos espertos, “coelhos”. Som alto até tarde. Lixo no passeio do outro. Fofocas, calúnias. Zoeira no boteco da esquina, ou membros de uma nova seita gritando sons estranhos.

Nenhuma relação, para ser boa, pode ser unilateral e praticar a política de boa vizinhança é, no mínimo, usar a inteligência.

Inveja, que bobagem! Se o vizinho comprou um carro novo ou reformou a casa, que bom!

Casa bonita enfeita a rua, e o carro, bem, o carro...

- Ei vizinho! Minha mulher está sentindo dores.

Pronto, chegou a hora do parto. Lá vai o vizinho com seu carro, socorrer.

Como já diziam os nossos avós: o vizinho é o parente mais próximo.

O texto acima, de minha autoria, era da capa. O TRUQUE & GALHOS foi para a página 2 de responsabilidade de Geraldo Bernardes, falava das qualidades da alfavaca no tratamento de saúde. na página 3 Rubens e Laura escreveram sobre os 500 anos de Brasil:

Brasil!

País de muitos credos e culturas.

País que se diz descoberto há 500 anos!!!

Será mesmo?

Não é de se envergonhar?

Como descoberto?

Já havia aqui habitantes!

Pois é...

Povo que tinha toda essa imensa terra

E que hoje dela é apenas inquilino

Vivia em liberdade.

Liberdade de andar nu, de usar a terra e a natureza, de buscar nela sua sobrevivência, sem destruí-la.

É!... Os índios eram parte da natureza. Mais: Eram a natureza.

Que pena!

Homens se dizendo civilizados destroem, desencantam...

Arrancaram desse ser ingênuo sua crença, seus hábitos, sua pureza!

Naquele tempo sim! "Todo dia era dia de índio"

E hoje eles (os poucos que ainda restam)

Só têm o dia 19 de abril!

Quem não vive para servir, não serve para viver - Ghandi

Na quarta página, na coluna RIR AINDA É O MELHOR REMÉDIO, Marquinhos escreveu:

O caso se deu da seguinte forma:

O povo do Bairro Industrial estava danado da vida com as guias de impostos enviadas pelas prefeituras de Contagem e Belo Horizonte. A associação do bairro travou luta feia pela definição dos limites municipais do bairro: Foram abaixo-assinados, audiências, manifestações, etc.

Acontece que o leite estava correndo solto e o que é melhor: de graça. Se o povo e a associação não agissem, até a Prefeitura de Betim iria mamar.

Foi assim que a vaca foi para o brejo, com os moradores proclamando: A onça vai beber água!

A associação recolheu todas as guias dos impostos dos moradores. A indiferença oportunista dos prefeitos incomodava. Aí surgiu a ideia:

- Fogo nisso!

Levaram todas as guias dos impostos para a porta da Prefeitura e atearam fogo. Uma beleza! Parecia Festa Junina.

Assim foi resolvida a questão: Bairro Industrial é Contagem mesmo sô! E não se fala mais nisso.

Até hoje se ouve o comentário:

- O povo do Bairro Industrial é fogo.

E Botafogo nisso!