DOM QUIXOTE E DOM CAPPIO

DOM QUIXOTE E DOM CAPPIO

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Conta-nos Miguel de Cervantes a história de um corajoso fidalgo espanhol que para provar o seu amor à Dulcinéia Del Toboso, sonhou fazer justiças no mundo. Surgiu assim o fictício dom Quixote de La Mancha que recorreu a uma enferrujada armadura, fez uma viseira de papelão, montou em seu decrépito pangaré “Rocinante” e foi enfrentar os inimigos.

Em sua luta inglória, dom Quixote convenceu a um ingênuo e pobre lavrador - Sancho Pança – a ser o seu fiel escudeiro, garantindo-lhe êxito e posse de terras, quando abatesse os poderosos possuidores de terras. Então saiu dom Quixote a desafiar opositores: avançando sobre moinhos de vento imaginando estar a lutar com cavaleiros poderosos e agredindo rebanhos de ovelhas, supondo derrotar inimigos.

Sancho Pança limitava-se a apontar, avisar e socorrer dom Quixote após as sucessivas surras que levava dos proprietários dos bens destruídos, dos pastores de ovelhas etc., mas não tomava nenhuma atitude para demovê-lo da imaginação de que estava a vencer batalhas.

No final da estória, após muito apanhar, dom Quixote, aceita um combate com o mais forte e bem preparado cavaleiro, sob o desafio de que quem perder teria que pôr fim à vida de cavaleiro andante e de ser opositor. O fidalgo é vencido, volta ao lar cansado. Despertando para a realidade de que não estava convenientemente armado, e que jamais lutara contra verdadeiros cavaleiros, recolhe-se e morre como piedoso cristão.

Com todo respeito ao corajoso bispo, infelizmente, vejo essa sua decisão uma enorme semelhança com a história de dom Quixote.

Obviamente que são justíssimas suas razões e indignação diante do mal que o presidente Luis Inácio está determinado a fazer, não só ao rio, mas a todos ribeirinhos que em futuro próximo não terão água, pois o rio tornar-se-á temporário.

No combate anterior, há dois anos, onze dias de fome lhe custaram quatro quilos a menos, enquanto o seu opositor estava muito distante de seus protestos e para iludi-lo, enviou mensagem mentirosa, fazendo dom Cappio imaginar ter sido vitorioso.

Creio que dom Cappio está a usar equipamentos incapazes de derrotar os inimigos que estão insensíveis ao desafio. Embora esteja a lutar por uma injustiça ( a transposição do rio São Francisco), os seus opositores, bem armados cavaleiros, estão distantes, nos palácios e escritórios a ordenarem o processo que matará o Velho Chico.

O presidente Lula, agora já não necessita de votos para reeleição e por isso mesmo, já declarou que está insensível e distante ao problema do bispo, antigo companheiro de campanha eleitoral.

O ministro Geddel, solicitou ao governador do estado da Bahia- Jaques Wagner – que coloque médicos à disposição de dom Cappio, para atendimento quando necessitar. Bálsamo, evidentemente, dispensável à quem está decidido a sacrificar-se.

Cabe a nós ribeirinhos, conhecedores de que o rio não suportará esta sangria, adotarmos posturas mais enérgicas frente aos numerosos inimigos que não estão apenas na mente de dom Cappio, mas, debochando da atitude altruísta e corajosa do religioso.

Se não adotarmos uma posição mais firme, e deixarmos dom Cappio sozinho nessa luta, não conseguiremos modificar o curso da história, dando novo final à mesma. Dom Cappio será o dom Quixote e nós seremos o ingênuo e bonachão Sancho Pança.

A vida imita a arte!