DIÁRIO DE UMA PANDEMIA (Dia 39; Dia 40; Dia 41)

Dia 39

21 de setembro de 2026

O dia de hoje amanheceu animado.

O povo já está acostumado às falas impensadas e aos rompantes machista do presidente. Hoje foi mais um desses dias.

E não foi por que ele fez as costumeiras exibições voando de asa delta, na praia cheia de gente: banhistas que teimam em não cumprir o isolamento.

Foi num daqueles momentos em frente ao Palácio. Foi ao responder a uma pergunta a respeito de supostos envolvimentos de membros de sua família com as milícias, no Rio de Janeiro. Sua resposta não deixou barato:

“Se disserem que comi tua mãe, você acreditaria? Pois todo dia é assim comigo. Vivem me acusando, mas ninguém prova nada”

Os veículos de comunicação, nacionais e estrangeiros, repercutiram o dia inteiro a fala do presidente. Mesmo alguns de seus aliados não gostaram.

Seu gado seguidor, entretanto, como sempre achou que respondeu corretamente: a repórter não tinha que envolver a família do presidente! Ele tem direito a vida privada!

Mas o problema central, permaneceu: o vírus mortal continua sua missão de reeducar nosso mundo.

O Brasil, entretanto, está se saindo uma criança rebelde. Tudo porque um grupo de pessoas segue, sem pensar, a um presidente motoqueiro.

Os jornais repetem as informações, apenas atualizando números. Vários milhares contaminados e mortos nos Estados Unidos.

Embora as nações da Europa, aparentemente, estejam superando os momentos mais difíceis, os norte-americanos, ao que tudo indica, estão entrando no período crítico.

Ao mesmo tempo que o governo norte-americano anuncia um plano econômico bilionário, para atender à população, o governo brasileiro anuncia intenção de reduzir salários dos trabalhadores para socorrer empresas e empresários.

Mas o socorro econômico principal será para os bancos...

De manhã consegui falar com meu amigo na China.

Ainda estão com problemas, mas o número de infectados e mortos está se reduzindo. Parece que a China já passou pela sua tempestade. O bambu já esta pronto para desenvergar.

É claro que ninguém verbaliza isso de forma explícita, mas circula nas rodas de redes virtuais que o governo brasileiro assumiu a postura de partir para o tudo ou nada: “É guerra!”, teria dito o presidente, alegando que o vírus da morte não existe e tudo não passa de propaganda de seus adversários para desestabilizar seu governo.

Já que as autoridades sanitárias afirmam que dificilmente alguém vai deixar de ser contaminado o “ministério da maldade” do governo, assumiu que é melhor acelerar o processo e contaminar logo todo mundo. E o presidente saiu para as ruas para dar o exemplo.

Os profissionais da saúde dizem que é preciso retardar o contágio porque o sistema público não dará conta de atender e socorrer e salvar a todos.

O “ministério da maldade” aposta nisso: acelerando a contaminação muitos serão atingidos, muitos morrerão, entre eles os mais idosos. E, para os integrantes do “gabinete do mal”, aumentando o número de mortos não será necessário aposentar quem estava na fila da aposentadoria e serão suspensos os pagamentos dos falecidos.

As mortes do brasileiros é lucro, na ótica do presidente.

As mortes são um benefício para a previdência.

É claro que, em público, ninguém assume essa postura, mas eu sei como funciona o sistema. Fiz parte disso por muitos anos.

Dia 40

22 de setembro de 2026

Na edição de hoje, muitos jornais levantam a indagação: como o presidente não contraiu a doença, uma vez que vários de seus assessores adoeceram logo após o retorno da viagem à China. Inclusive o tradutor oficial, que acompanhou a missão, morreu com os sintomas do mal que está assombrando o mundo.

A imprensa nem imagina que a comitiva presidencial levou meu produto e que ao entregá-lo ao presidente eu o imunizei.

Não o quero morto. Quero que viva para morrer politicamente; para que o povo saiba de sua incompetência.

Eu tenho a cura e o controle sobre meu produto. O presidente não contrairá o vírus, pois ele é o hospedeiro zero, devidamente imunizado.

Mas ele nunca mais assumirá outra função pública, pois seus atos serão a sua ruína.

Eu não quero que ele morra sem ver o estrago que anda fazendo e sem que sinta a rejeição do povo.

Rejeição não por suas bravatas machistas, mas porque poderia tomar medidas sanitárias minimizando o sofrimento do povo e nada faz.

Da mesma forma que nada faz em favor do povo em relação a outros problemas sociais. Pelo contrário, seus projetos e propostas sempre satisfazem os interesses das grandes corporações e dos banqueiros.

Depois de tê-lo estudado e analisado por vários meses, procurando os padrões de seu comportamento e posturas, sei que ele age como criança mimada.

Não pode ser contrariado que faz birra.

E aí, como se acha todo poderoso, impõe sua vontade, por mais absurda que seja.

Ele acha que está sempre certo.

Acha que deve fazer o que pensa e não o que o bom senso indica.

Desde o início de seu mandato, eu o venho analisando. Se foi capaz de desarticular as universidades de ponta e a capacidade investigativa dos pesquisadores do país, certamente não se submeteria às orientações dos cientistas da saúde: “eu tenho a caneta”, costuma dizer.

Eu o imunizei para que, saudável, pense que é um super-homem e tome medidas para atender às elites que o sustentam e não aos pobres que o elegeram, pensando que fosse o salvador da pátria: um messias!

Minha intenção é mostrar ao povo que ele não veio caçar os marajás, como vive afirmando, com seu aspirador de pó na mão!

Também não veio socorrer os pobres e muito menos atender aos trabalhadores.

Sua missão, na política, é atender às elites e às milícias.

Esses são seus reais aliados e com quem se identifica.

E os jornais de hoje mostram indícios de que começa a se instalar o quadro da rejeição.

Mesmo com as recomendações dos profissionais da saúde de que não ocorram aglomerações, fez uma inauguração pública e em meio a aplausos, na praça da catedral, em Florianópolis, alguém lhe atirou um tomate podre...

Dia 41

25 de setembro de 2026

Hoje, novamente, os jornais mostraram uma possível ligação do surto do vírus mortal em Pernambuco, com a presença do presidente nas praias de Recife, em mais uma exibição de asa delta.

Os jornais mostram fotos e vídeos dele saindo de Brasília e o ministro da saúde dando entrevista sobre o avanço da doença.

Mostram o presidente em acrobacias com sua asa delta nas praias pernambucanas e uma fileira de caixões sendo enterrados no cemitério da capital do estado.

Mostram o presidente rodeado de populares na praia e uma mãe chorando a morte do filho, estudante de medicina.

Os jornais trazem longas reportagens falando a respeito de diferentes cidades onde ocorreram protestos contra atos do presidente.

Reportagens comentando as manifestações populares com gritos e panelaços ecoando pelos edifícios da cidade repudiando as atitudes do presidente.

Mas a reportagem que mais me interessou foi da TV, mostrando que ao se aglomerar com o povo na praia e nas ruas de Recife o presidente pode ter cometido um atentado contra a saúde coletiva, pois ampliou as condições de transmissão do vírus mortal.

E isso, pelas leis nacionais, é crime!

Vamos esperar como reagirão seus adversários, com mais uma atitude infantil do presidente amolecado.

Meu palpite é que não vai dar em nada.

Os adversários estão presos no bolso… ou nas malas, do presidente.

Todos sabem onde estão seus rabos podres!