O cheiro da juventude

Eu ainda sinto o cheiro da juventude.

Parece tão estranho.

Mas não é.

Quem é que não sentiu o cheiro da roupa lavada, pela mãe, estendida na corda ou em algum arame durante as manhãs.

E logo era passada por um ferro a carvão em brasa.

A água puxada de um poço fundo através de um balde que enchia tanques e bacias.

O sabão em pedra feito em casa.

Ainda não tinhas as facilidades de hoje.

Limpava mais que qualquer produto de hoje.

Quem não sentiu o cheiro do café fresco nas manhãs.

Café natural torrado em fogão a lenha e depois moído em um moinho manual.

As vezes o pó de café ficava grosso demais ou fino demais.

E sempre acompanhado do leite natural e do pão feito em casa assado no forno de barro.

Quem não sentiu o cheiro do capim seco, nos meses de agosto onde quase não chovia.

Quem não sentiu o cheiro da relva molhada pelo orvalho da madrugada.

Quem não sentiu o cheiro da laranja que minha mãe descascava.

Quem não sentiu o cheiro do mamão e da melancia que meu pai trazia da roça.

Quem não sentiu o cheiro dos velhos gibis com histórias de índios, mocinhos e bandidos.

Quem não sentiu por algum momento sequer o cheiro do aconchego do lar e das coisas que mais dão um verdadeiro significado à vida.

Esses cheiros que ficam entranhados nas nossas narinas e na nossa alma.

E que não saem mais!

Hoje quando todos os cheiros me transportam e quando respiro fundo, sinto cheiro de nunca mais.

Que prazer eu encontro lá na minha juventude tão querida que os anos não trazem jamais.

"Hoje a saudade é demais quase não cabe em meu peito.

É como um rio que vai a procura do mar e não pode mais voltar..."

Benedito José Rodrigues
Enviado por Benedito José Rodrigues em 17/10/2022
Reeditado em 18/10/2022
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