DIÁRIO DE UMA PANDEMIA (Dia 48; Dia 49; Dia 50)

Dia 48

11 de outubro de 2026

Como faço todos os dias, fui tomar café lendo os jornais, pelo celular.

A informação estava lá estampada: meu amigo da universidade de Pequim foi assassinado.

Pode parecer estranho, mas tínhamos uma longa amizade desde os tempos que fizemos o pós doutorado na Inglaterra.

Nossas pesquisas na época nos uniram em nossos objetivos nacionalistas.

Eu me dedicando às enfermidades amazônicas e aos medicamentos de nossa flora e ele preocupado com a saúde proporcionada pelos alimentos tradicionais de seu povo e as iguarias ricas em nutrientes.

Foi ele quem me explicou o porquê de alguns pratos que consideramos exóticos, em sua gastronomia. Todos eles foram desenvolvidos a partir de situações de fome extrema. Seu povo, em várias oportunidades, passou fome. Então os cachorros, morcegos, cobras e outros animais não foram poupados.

Segundo ele, a fome cria cardápios maravilhosos.

O fato é que ambos estávamos pesquisando a partir nos nossos sentimentos de profundo respeito pelos costumes dos nossos povos.

Lendo a manchete: “assassinato em Pequim abala mundo acadêmico” e logo abaixo a biografia do meu amigo, suas descobertas e as suspeitas das causas de sua morte.

Principalmente porque foi ele que anunciou ao mundo a letalidade do vírus que se espalhou pelo mundo como “vírus da China”.

Mas as informações do noticiário não se aproximaram da realidade.

Há pouco mais de um ano ele me havia dito que os norte-americanos o estavam procurado e indagando sobre suas recentes pesquisas virológicas.

Queriam saber como ele conseguira amostras protegidas e secretas, que estavam sendo desenvolvidas em seus laboratórios militares.

Claro ele nada falou sobre nossas pesquisas conjuntas.

E também é verdade que ele não sabia nada a respeito do produto que eu estava desenvolvendo a partir da amostra que desenvolvi usando elementos conseguidos nos Estados Unidos, mas também usando estruturas e laboratórios de vários locais.

Tudo para não deixar pistas.

Queria e mantive meu produto escondido.

Por mais letal que seja um vírus ou uma bactéria, se for bem acondicionada e isolada, dentro dos corretos protocolos de segurança, acaba sendo inofensiva.

O perigo dos seres microscópicos não é a sua capacidade em provocar doenças nos demais seres vivos, particularmente no homem, mas o contato que o ser humano pode fazer com esses seres.

Eles podem ser mortais, mas somente se entrarem em contato com o ser humano.

Por tudo isso sei que os americanos estavam farejando uma pista falsa.

Eles nunca chegariam a Rondônia e às minhas pesquisas.

Mas, mesmo que cheguem a mim, nada temo, pois meu produto já está à disposição de todos os ricaços do mundo, levado para China pelo presidente.

Só eu sei que ele se originou em seu arsenal militar desenvolvido em seus laboratórios secretos. O que fiz foi só aperfeiçoá-lo.

Dia 49

12 de outubro de 2026

Tantas são as coisas que a gente faz ao longo de nossas vidas.

Muitas delas são realizadas pensando apenas em nós.

Mas também tem aquelas coisas que fazemos e trazem algum bom resultado para as pessoas com as quais convivemos.

Com essa preocupação foi que desenvolvi meu produto.

Meu objetivo sempre foi fazer uma faxina no mundo.

Tanto do ponto de vista ecológico como do ponto de vista sociológico.

O mundo está superpovoado. Além disso os ricos do mundo, que não são muitos, pisam e exploram e dominam as multidões dos pobres espalhados pelas mais diferentes cantos do planeta.

Eliminá-los ou diminuir seu número é uma forma de agir em favor dos pobres.

Da mesma forma que a natureza pode sobreviver sem o ser humano, os pobres podem sobreviver soem os ricos…. Já os ricos, dependem dos pobres para continuarem sendo ricos!!!

O mal do mundo não são as indústrias emporcalhando o ambiente.

O câncer do mundo, a lepra da sociedade, são os proprietários das fábricas que as fazem funcionar a pleno vapor, contaminando tudo e todos com as mais diversas formas de poluição.

O mal do mundo não é o plástico jogado nas ruas, nem os pneus, nem os cachorros mortos, abandonados em qualquer lugar, nem qualquer lixo que entope as ruas… O mal do mundo são as indústria que os produzem... as pessoas que jogam tudo isso por aí… só o fazem porque a indústria as produziu!

A prova disso é que, com o tsunami da atual pandemia, as fábricas quase pararam.

As praias se esvaziaram.

Resultado?

Inúmeras medições constataram que o ar está menos poluído.

As águas estão se recompondo.

Diminuiu a poluição!

Diminuiu o lixo espalhado pelas ruas.

O planeta sabe cuidar de si… nosso mundo e as pessoas que o produziram é que não sabem!

Pensando em tudo isso é que meu produto está cumprindo com seu propósito: Diminuir o peso dos ricos sobre o planeta.

Diminuir o contingente daqueles que sujam o mundo ao ponto de produzir um planeta enfermo, agonizando…

“Buliram muito com o planeta, o planeta como um cachorro eu vejo.

Se ele já não aguenta mais as pulgas, se livra delas aos saculejos”, disse o sábio Raul Seixas.

Dia 50

13 de outubro de 2026

Quando elaborei e desenvolvi e concluí e distribuí meu produto, a intenção era faxinar o planeta, limpando-o a partir dos aeroportos, marca característica do mundo dos ricos.

Mas o mundo dos ricos é um mundo capitalista.

E o grande problema, nessa história, é que o capitalismo funciona como um “gato de sete vidas”. Percebeu o filão econômico da pandemia e, para não adoecer sozinho, encontrou um meio de faturar com a crise das doenças.

Por esse motivo o mal se espalhou e infectou as camadas populares das periferias.

Um efeito colateral do meu produto.

Mas nem isso se constitui como problema, pois o objetivo de exterminar um grande contingente de pessoas vai ser atingido mais rapidamente. E, talvez, amplie ainda mais o numero de mortes!

Com isso, meu produto cumpriu outro papel: aliviou a pressão social da fome, do desemprego… pois além de adoecerem e morrerem os ricos frequentadores dos aeroportos meu produto entrou nas periferias, espalhou-se pelas favelas e pelas cidadezinhas do interior locais onde vive o povo pobre.

E meu produto começou a matar velhinhos pobres.

Só que isso foi feito de propósito.

Eles se apropriaram do meu produto e o disseminaram entre os pobres.

A finalidade desse golpe contra os pobre foi aliviar a crise da previdência.

Deixar a pandemia subir os morros, entrar nas periferias e se popularizar é uma das formas pelas quais o poder estabelecido pretende diminuir, não só a população do mundo, mas principalmente os usuários dos sistemas de previdência.

O raciocínio dos capitalistas é assim: “quanto mais velho morrer menos aposentadoria se tem que pagar”. E dinheiro público, no cofre púbico é um excelente negócio para o jogo do superfaturamento e das propinas e do desvio de dinheiro, e criação de hospitais em obras superfaturadas ………..

Além disso, assim pensam os donos do poder, velho não trabalha, só dá trabalho.

Sem contar que fica cobrando melhorias no sistema de saúde pública… tem que acabar com eles….

Quem me alertou sobre isso foi minha vizinha, como eu, aposentada!!!