Não posso fingir que não gostei (ou: Tchau, já foi tarde)

Dois de dezembro, dois mil e sete, quatro e pouco da tarde - Aos gritos de “timinho, timinho”, a torcida gremista invocava ao campo do Olímpico os hesitantes inimigos alvinegros. Enfurnados no vestiário, os fracassados soldados do Sport Club Corinthians Paulista adiavam – a esta altura, em um atraso de mais de dez minutos –, covardemente, o inevitável: o naufrágio que coroaria a sucessão de desgraças conquistadas pela equipe no ano, graças à mediocridade de comandantes e comandados do grupo.

De nada valeu o esforço manipulador da mídia sudestina. De nada valeu a tentativa de pintar o jurássico Vampeta como líder capaz de motivar os quase afogados corinthianos para um último suspiro. De nada valeram as rezas nem as psicopatas demonstrações de amor pelo clube protagonizadas pelos membros da “fiel”. Nem o súplico "salve o Corinthians, blá-blá-blá...", cantado já no primeiro verso do hino do clube, surtiu efeito. Afundou - e já foi tarde.

Não posso fingir que não gostei. Por pouco mais de noventa minutos, esqueci que sou gremista para ser mais um anti-corinthiano. E juro que não é mágoa de quem já jogou a segundona: ver os representantes do auto- intitulado “todo-poderoso timão” como um bando de franguinhos perdidos em campo me trouxe uma estranha e honesta satisfação.

O corinthians (agora, assim, com minúscula) precisava apenas de uma vitória. Apenas. Se vencesse, não dependeria de mais ninguém para se manter – ainda que injustamente – na elite do futebol nacional. Doce lógica natural: quando mais dependeu de si, faltou-lhe o que nunca teve, a tal da qualidade.

Com um minuto e pouco de bola rolando e um gol fácil, o Tricolor mostrou que estava disposto a colaborar com uma bigorna para levar o timãozinho ao fundo do mar de lágrimas derramadas no campeonato. O gol chorado do pseudo-ídolo-injustiçado-zé-ninguém Clodoaldo não ajudou em nada. Posso estar enganado, mas o Grêmio – que já não disputava mais vaga na Libertadores do ano que vem – parece ter relaxado um pouco, para fazer da descida mais suave, ou para, sadicamente, deixar um fiapo de esperança no ar.

Em outro paralelo da história, os apenas esforçados colorados ajudaram com uma “pedrinha” a mais: sucumbiram ao Goiás (que “disputava” com o sccp uma vaga na divisão inferior), no Serra Dourada, por dois a um. Um lance do jogo mostrou como, de tão triste, certas coisas são engraçadas. Onze do segundo tempo, Goiás e Inter empatavam em um a um; Grêmio e corinthians repetiam o escore. Então: pênalti para Goiás – vai lá o vovô Paulo Baier, chuta, Clemer se adianta e defende. O juiz manda voltar, parece replay: vai lá o vovô Paulo Baier, chuta, Clemer se adianta e defende! Invocado, Élson pede a bola e, com o goleiro vermelho se adiantando e tudo, sepulta de vez o timeco de preto e branco, a uns dois mil quilômetros de distância.

De certo modo, temo o que pode brotar desse justo capítulo do futebol nacional: a Globo deve preparar uma minissérie ou um documentário em 216 partes para ser exibido em horário nobre ou colocará o Galvão Bueno para narrar os embates corinthianos na segunda divisão – para tal, não transmitirá os jogos da Série A em 2008, já que, segundo as estimativas mais tendenciosas, os “fiéis” representam mais de dez por cento dos torcedores nacionais – dezoito milhões de pessoas merecem, enfim, tamanha regalia (números fajutos apontam para absurdos trinta milhões).

Não foi como eu pensei: eu sonhava com um histórico e humilhante dezenove a um. Mas, o que me anima é que, do jeito que está, tão cedo o corinthians não volta. Idiotas de plantão arriscarão: ‘tudo isso é medo?’. Não é mesmo. Eu tenho medo é dos vivos. Canta, fiel, mas canta alto, que do lugar onde vocês estão, não ouço nada! Tchau. Repetindo: já foi tarde.

(originalmente publicada em www.ainsanidadenaotemnome.blogspot.com)