Sem conclusão

Acho que esse vai ser um bom tópico a explorar. Então... Vamos a ele.

A imaturidade é, se me permitir ceder ao lúdico, doce. A infância é o período das grandes expedições, é a era do descobrimento. É estranho ver alguém se sentir ofendido por manter um pouco dela ainda viva, mesmo na vida adulta.

Se bem que, em que ponto da vida a maturidade chega? Quando somos forçados a pagar contas? Pago as minhas desde os quinze, mas ainda não era um adulto. Quando a responsabilidade é posta sobre os ombros? Tenho vinte e quatro e ainda não me vejo como sendo responsável, então... como isso fica?

Ainda vejo meus desenhos, ainda me perco nas minhas fantasias, ainda gosto dos meus velhos dinossauros de plástico. Talvez seja só uma nostalgia contundente, mas (e sempre tem um “mas”) não parece que essa memória afetiva seja o que me segura no passado. Se é que isso realmente venha a ser passado.

Não saio correndo por aí brincando de pega-pega, saio correndo para pegar o ônibus para o trabalho. Não monto teatrinhos com bonecas, nesse ponto da história elas ganharam vida própria e o teatro perdeu o roteiro, ficou mais sério. Não brinco de esconder, não tenho mais como me enfiar dentro do armário e ficar quieto para que não me achem. Sou grande demais para fazer isso, minha altura não deixa caber, meus problemas não dão essa liberdade.

Brincar de ser real é cansativo, mas ainda é uma brincadeira. A única diferença é que não temos a liberdade de escolher quando a brincadeira começa ou quando acaba. Será que é essa a marca inicial da maturidade? A percepção de que não temos escolha e de que somos reféns da vida adulta, é isso que leva a maturidade? Se for, não quero ela. Renego, descarto, deixo onde está.

Mesmo tendo crescido, ainda tem momentos em que quero voltar a caber embaixo da cama, dentro do cesto de roupas, em um canto do armário. As vezes penso que existe conforto nesses espaços. Será que me tornei realmente em um adulto?

É até irônico pensar no pirralho que fui, almejando a liberdade que vem com a maturidade, sem perceber que já era livre. Esse é, provavelmente, o maior erro de uma criança; essa crença inocente, sem parâmetro ou lógica, de que um adulto é feliz por ser adulto.

Talvez a maturidade seja uma espécie de doença, uma punição ou maldição. Ela tenta, com um empenho avassalador, enterrar a pobre criança que antes vivia em nosso cerne. Sufocando o pequeno com uma falsa liberdade, com uma vida completamente acorrentada ao que se espera de um adulto.

Mas... e sempre tem um “mas”.

Não acho que só de dor vivem os adultos, isso seria pessimista até para mim (e olha que adoro botar o pé na melancolia).

Acredito que haja uma certa beleza no crescer, só é um pouco mais difícil de perceber. É uma felicidade fantasmagórica, quase translúcida e intangível que só pode ser vista por aqueles que mantém os olhos e as mãos de uma criança.

E é por isso que me esforço para manter esse lado ainda vivo. Não quero perder o que eu fui para me tornar outro. O que a criança em mim pensaria se me visse sufocando o que ela lutou tanto para construir?

A infância assusta tanto assim?

E por que a vida adulta assusta ainda mais?

André André
Enviado por André André em 09/11/2022
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