PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E DESIGUALDADES SOCIAIS

Embora a minha graduação seja Letras, a vida me colocou para desempenhar diversas funções, que me levaram a estudar bastante sobre aprendizagem e sobre educação. Em 1996, durante a minha segunda especialização (Psicopedagogia), eu fui apresentada ao psicólogo romeno (1921- 2014), Reuven Feuerstein, formado pela Universidade de Genebra.

Durante seus estudos, Feuerstein foi orientado por psicólogos famosos como Jean Piaget, André Rey, Barbel Inhelder e Marguerite Loosli Uster. Também nessa época, ele desenvolveu um apreço especial pela teoria de “aprendizagem mediada” postulada pelo psicólogo russo Lev Semionovitch Vygotsky. Neste ponto, eu aproveito para ressaltar que, diferentemente do que muitos educadores pensam, “aprendizagem mediada” não é simplesmente o ato docente de ficar entre o conhecimento e o aluno, mas, sim, o ATO DOCENTE, LÚCIDO, DE FAZER PERGUNTAS, CONDUZINDO O ALUNO A RACIOCINAR CORRETAMENTE.

Bem, mas voltemos ao Feuerstein... Em dado momento de sua trajetória acadêmica e profissional ele passou a dizer que a inteligência é “plástica”, é “moldável”. Em outras palavras, é como se ele dissesse que “pau que nasce torto NÃO morre torto”, ou seja, que pessoas “burrinhas” podem se tornar inteligentes, se forem mediadas com instrumentos adequados e por pessoas que conheçam os fundamentos da Teoria da Modificabilidade Cognitiva, postulada por ele.

Talvez por tudo isso, ou principalmente por ser judeu, logo após o fim da segunda Guerra Mundial ele foi convidado pelo Estado de Israel para trabalhar com centenas de crianças judias, órfãs, recolhidas nos campos de concentração da Alemanha. O problema era seriíssimo, pois tratava-se de seres que não haviam frequentado escolas, que tinham severos prejuízos cognitivos e, consequentemente, de aprendizagem. Feuerstein assumiu a tarefa proposta, aplicou-lhes instrumentos do PEI- Programa de Enriquecimento Instrumental- e conseguiu resultados impressionantes, até mesmo com pessoas que possuíam Síndrome de Down.

Quando eu soube de tudo isso, eu entendi que eu poderia “salvar” muitos alunos com déficit de aprendizagem, que eu tinha sob a minha responsabilidade em uma escola particular em que trabalhava na época. Decidi que eu iria fazer um curso para aprender a usar o PEI e com a ajuda de Lucileia Maria Uneida Zanon (a quem serei eternamente grata por isso, também.), eu fui a São Paulo (Instituto Pieron) algumas vezes para internalizar os fundamentos da Teoria da Modificabilidade Cognitiva, para aprender a “mediar” e, principalmente, para aprender a aplicar os instrumentos que tornam as pessoas inteligentes. Ressalto que os instrumentos do PEI ativam os neurônios para que passem a desempenhar corretamente as funções cognitivas essenciais para aquisição de habilidades e competências.

Uma vez em Linhares, eu apliquei o PEI para alguns alunos e entre eles, para meus dois filhos e para dois sobrinhos. Creio que funcionou muito bem pois entre esses quatro um é PHD, um é advogado e engenheiro químico (simultaneamente e pós-graduado nas duas ciências que dão esses títulos), um é advogado de sucesso e o outro é cientista da computação muito respeitado, também.

Por que lhes escrevo sobre tudo isso? Porque, como continuo atuando na educação (apesar de já estar aposentada) pública, tenho sabido com tristeza sobre o insucesso de muitos alunos neste período pós-pandemia. É como se eles tivessem dificuldade para aprender, não apenas porque lhes faltam bases (e aqui entra a teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel) ou porque as tenham “porosas” demais, mas porque, talvez, seus neurônios não tenham sido adequadamente estimulados para aprenderem a comparar, a perceber ínfimas diferenças, a raciocinar logicamente, a conter a impulsividade, a reter a atenção...

Esse estado de coisas me leva a várias perguntas e entre elas destaco essas três: O que fazer para reverter essa situação? Como fazer os alunos aprenderem? Qual é o perigo de o sujeito não saber comparar, não enxergar diferenças sutis e não saber raciocinar logicamente, por exemplo?

Bem, em meu entender, as respostas são simples: é preciso que o MEC e as Secretarias de Estados e Municipais desenvolvam programas em que sejam propostas atividades voltadas para o fortalecimento de conhecimentos básicos, bem como para o desenvolvimento de funções cognitivas, tais como as elencadas no 7º parágrafo desta crônica.

Essas medidas são fundamentais para que as desigualdades sociais não se agigantem além do que já existem, pois se nada for feito, brevemente teremos mais uma geração com certificados de ensino médio e/ou de curso superior nas mãos, ganhando pouco dinheiro (lei da oferta e da procura), acreditando em discursos picaretas, sendo guiada com antolhos, falando e fazendo besteiras, cantando hino para pneus e o pior: colocando a culpa das suas mazelas em Deus.

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 10/11/2022
Código do texto: T7647083
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