Lamúrias raivosas no amarelo

Aquela conversa sobre escrita havia me deixado curioso, pois, queria ter conhecimento do conteúdo que escrevera. Mas logo em sequência ao estado álacre que me fez ficar, o entusiasmo desceu todos os andares até chegar ao térreo da decepção, quando anunciou que não tinha mais consigo o caderno onde estivera registrado seus pensamentos. Para equilibrar as coisas, lançou no ar a promessa de retomar o hábito de escrever. Não sei se exatamente por vontade própria, ou se pelo fator 'insistência' que emanava de minha parte. Após isso, só me restou esperar, para enfim poder me agraciar com o que estaria a pensar; e num momento onde todo o citado estava adormecido dentro de mim, um papel amarelo - e dobrado - me é entregue por suas delicadas mãos. Surpreso, deixei o sorriso me escapar e quase de imediato me pus a ler. Logo de início pude sentir a aura do conteúdo. Lendo devagar e com atenção aquelas palavras, lamentava o teor delas; embora seja autoritário querer determinar seus sentimentos. Li e reli - pelo menos - umas cinco vezes em sequência desde a primeira lida; e de modo reflexivo, imaginei a gritante diferença entre aquela frente da folha amarela tomada de lamentos, para o que seria o conteúdo mais sonhador e alegre que deveria imperar nos seus escritos joviais do seu extinto caderno; possivelmente muito distante do derrotismo e revolta com a qual me deparei. Não quero julgá-la - embora assim faço - e muito menos não ser merecedor de sua confiança, mas da mesma forma que, involuntariamente, não foi capaz de transmitir quase que nenhum sentimento positivo, também não consegui resistir a minha inquietude diante suas sorumbáticas palavras. E, antes de adentrar as questões que me preocuparam, para fazer contra-ponto ao negativismo que se apossou de seu coração, sufocando a esperança que foi dominada dentro de você, lanço um elogio merecido para sua escrita. Uma carícia antes de começar a admoestá-la em razão de pensamentos sombrios; seus riscos e toda a consequência deles. Não sei o momento que essa camisa de força negativa vestiu o seu ser; e também não tenho como intuito minimizar sentimentos pessoais, pois, apenas gostaria de vê-la romper com as trevas de sua vida.

As ranhuras da vivência obtidas pela caminhada - muitas vezes - entre espinhos, de fato, podem deixar feridas e marcas profundas. Há ocasiões onde tudo doerá; o corpo, a alma, o espírito e até a mente. Como por hábito digo, 'quem disse que seria fácil?'. O questionamento pode não ser nada animador, mas é o princípio para imaginar que o sofrimento - seja lá por qual motivo - não é exclusividade de um ou de outro. Todos, sem exceções, terão suas aflições por aqui e cada indivíduo sofrerá, de certo modo, por variados motivos. O que pode fornecer a impressão de 'nada mais valer a pena'. Uma verdadeira injustiça na balança que pesa a favor - e não contra - inúmeras vezes. A fadiga pode vir com força extrema, assim como a calmaria é ausente em diversas circunstâncias, mas o espírito da esperança que habita em todos precisa ser buscado e exercitado com mais ênfase em tempos obscuros. Quando ocorreu essa reversão dentro de você? Um pequeno facho de luz pode romper uma imensidão de trevas; e nem sempre se faz necessário grande esforço para acabar com a escuridão presente. Basta procurar e achar dentro de si mesma o interruptor que acenderá essa luz para clarear novamente o seu viver. A 'árvore sem frutos' pode voltar a ser produtiva, basta cuidá-la de maneira adequada; mexendo na terra que a circunda e também expulsando as 'pragas' que a fazem ser infértil. O 'mar sem águas' pode transbordar novamente, atingindo os níveis de outrora, caso encontre por onde a água está escapando. Regressar ao 'lar de amor' não poderia ser descartado assim de maneira raivosa, embora compreenda as condições em que isso se sucede. Sendo muito mais por um orgulho dominante, do que por uma ideia consciente; e assim, negando até a existência do maior sentimento de todos, o amor. Onde por mais que não o enxergue, seria de uma injustiça gigantesca negá-lo, pois, já o provou diversas vezes ao longo de sua vida. As 'garras da ingratidão' estarão conspurcando a alma sempre que se permitir que ela tome controle do pensamento, o que a fará pensar que todos os ajudados deveriam ter gratidão, não a fazendo ter o entendimento do óbvio, onde sempre haverão os injustos; que não reconhecerão a bondade de seus benfeitores. Como um ás para uma cartada especial, cito Deus: - O ser divino no qual você crê já lhe desamparou ou foi injusto? Como presente no 'livro sagrado', o fardo de cada um não é além daquilo que se pode suportar; e tendo ciência que nenhum indivíduo sabe o que é melhor para si mesmo, apenas direcione sua atenção para o alto, fazendo com que de lá venha a única solução para os questionamentos e problemas aparentemente não-solucionáveis que habitam dentro do seu ser. Perseverando e acreditando que a fé - mediante ações - pode mudar o quadro negativo, tenha a convicção que a escuridão que lhe rodeia, lhe afligindo na maior parte do tempo, irá se esvair por completo quando for chegada a hora.

Edu Sene
Enviado por Edu Sene em 18/11/2022
Código do texto: T7652665
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