O Soneto

     Tenho que confessar. Sou invejosa. Eu não sei fazer sonetos. Em toda a minha já longa vida, só consegui fazer um. Um. Um mísero e pobre soneto que inclusive se encontra desaparecido. Talvez por isso eu tenha varrido a net procurando encontrar uma fórmula mágica. Não existe. Ou se é bom nisso, ou não se é. Mas nessa minha varrição, aprendi algumas coisas. Nunca tinha pensado no assunto antes, mas agora me sinto toda importante com as coisas que descobri. Como uma menina fazendo dever de escola, esperando a nota do professor.
 
     O soneto é uma pequena canção que vem ecoando através do espaço e do tempo desde o  começo do século XIII. Nasceu na Sicília e seu pai foi Giácomo Notaro. Quando ele nasceu, não tinha forma rígida. Quem lhe colocou rédeas curtas, padronizando-o, foi um tal de Guittone D´Arezzo, ainda no séc. XIII. Quis enformá-lo como se enforma um pé dentro de um sapato, determinando rima e métrica.  Mas, quem começou a difundi-lo pelo mundo afora foi o florentino Francisco Petrarca, cantando o seu amor platônico por Laura de Novaes. Foram 317 sonetos, que compõem o seu famoso O Cancioneiro, obra que influenciou todo o mundo ocidental. Provavelmente se o amor não fosse platônico ele não teria feito tantos poemas. Ou não teria tempo, ou já teria se desiludido. Mas não foi o único. Dante Alighieri também foi um grande sonetista, cantando o amor impossível pela sua Beatrice. Outros foram surgindo no mundo todo:na Inglaterra, Shakespeare, em Portugal, Luis de Camões, na Rússia, Alexandre Pushkin, na França, Charles Baudelaire. Isso só para falar dos antigos líricos que ainda não é hora de falar dos novos. Mesmo que não sejam tão novos assim.

         Eu me lembrava vagamente que o soneto é uma composição poética composto por 14 versos, dividida em 4 estrofes: 2 quartetos e 2 tercetos; cada verso tem que ter 12 sílabas poéticas. Os versos devem rimar entre si. Recordei-me, durante a minha pesquisa, que estes são os chamados  alexandrinos. Como a pesquisa foi rasteira, não descobri a razão de serem chamados assim. Mas, se em vez de 12 sílabas poéticas eu preferir as gramaticais, não tem importância: só que elas deverão ser 14. Todo soneto deve ter uma introdução, o desenvolvimento e a conclusão, que ocorre no último terceto: a chave de ouro. Clássicos também são os decássilabos, ou seja, os que têm 10 sílabas. Camões fazia versos decassílabos.O soneto inglês é diferente: tem 3 quartetos e um dístico.O que vem a ser dístico? 2 versos. As rimas podem ser variáveis: vejam que interessante - abba, ou abab, ou aabb( para as duas primeiras estrofes) ou, para as duas últimas: cdc/cdc ou cde/cde ou cce/ddc. Mas o que me impedirá de fazer um soneto sem rima? Nada. E eu nem estarei inventando moda. Já existem. São os sonetos de versos brancos. E, se eu já achava complicado fazer um poema, com o que eu descobri por último, ficou ainda mais - vejam: existem os decássilabos heróicos: aqueles que a acentuação tônica cai na 6ª e na 10ª sílaba; e os decassílabos sáficos( tônica na 4ª,8ª e 10ª sílabas).

      Descobri muita coisa mas acho que não vai adiantar nada. Vou continuar sem saber fazer um soneto. Pelo menos um que preste.Mas, pensando bem, regras foram feitas para serem quebradas. O importante nessa história toda eu penso que é a sonoridade. Um soneto ou qualquer tipo de poema tem que primar é pela cadência. O som que nos faz bater ritimicamente com as mãos enquanto o lemos.Ou ouvimos. Quando as palavras se transformam em música. Afinal, é uma pequena canção. Um pequeno som, bom de se ouvir. Para dormir e sonhar. No entanto acredito também que algumas regras devem ser mantidas. Como por exemplo o número de versos e o número de sílabas. Pode ser que tentando eu consiga fazer um monossilábico.