ANTIGAMENTE

Antigamente as pessoas se comunicavam com número bem restrito de pessoas. Alguns se tornavam amigos para sempre, colegas de escola ou trabalho, vizinhos e prestadores de serviços. Era assim, na cara a cara, no aperto de mão, no abraço, nas brigas de rua que se dava a interação social desde a infância até a velhice.

Os mais velhos hão de lembrar que havia a figura do “freguês”.

Aqueles fornecedores constantes e personalizados nas feiras livres, minúsculas bodegas, grandes e médias mercearias, padarias, farmácias, etc. onde as pessoas se conheciam pelos prenomes populares, todos eles antecedidos pelos honoríficos, senhor ou dona.

Havia cumplicidade, respeito interpessoal e responsabilidade na palavra empenhada.

Feliz ou infelizmente a relação interpessoal mudou.

A maioria dos amigos agora são virtuais, não existe mais a figura do freguês, hoje é cliente/fornecedor através de site de compras sem intermediários, com pagamento por cartões de crédito e entrega na porta com frete grátis se a compra ultrapassar determinado valor.

Os raros atendentes de lojas físicas, antigos balconistas, são céleres em dizer que não tem aquilo que você está procurando, sem que você tenha sequer a oportunidade de explicar os detalhes do seu objeto de desejo.

As conversas entre os membros das famílias, quando existem, se dão através do zati-zapi, até mesmo quando estão no mesmo cômodo da casa.

As farmácias fazem promoção do tipo (leve cinco, pague três) para a venda de tudo e qualquer coisa, inclusive remédios, com ou sem controle médico, de uso esporádico ou contínuo. Nos grandes supermercados já estão disponibilizadas cabines de check-out com autosserviço, leitura por código de barras e pagamento por cartão. Pagar com moeda corrente é coisa fora de moda.

Tudo isso é muito bom, é o dinamismo do progresso, é desenvolvimento comercial, é economia de tempo pela facilidade de termos tudo ao alcance de um clic, mas como tudo tem cara e coroa, causa a solidão e o isolamento com visíveis danos psicológicos pela falta de interação interpessoal.

É crescente o número de casos de síndrome do pânico, de suicídio, de alcoolismo e narcodependência, porque não deixamos, nem nunca deixaremos de ser animais sociais, portanto carentes e dependentes do contato físico e de ouvir a voz do semelhante diretamente sem auxílio dos fones de ouvido.