Ladrões de Cadáveres, Enfeites Desnecessários & Pena dos Vivos

O ser humano é mesmo um 'bichozinho' egoísta, medíocre e digno de pena...

Acompanhando uma matéria jornalística sobre os vários roubos acontecidos nos cemitérios de uma localidade aqui da região - a importante cidade de Limeira; começo a refletir sobre a insistente mania que temos de querer coisas. De exibir coisas. E de ostentarmos coisas...

Os crimes perpetrados visavam - óbiviamente - os tais adornos existentes sobre os vários túmulos. Dos mais diversos modelos e tamanhos possíveis - claro que os dos mais abastados sempre hão de ser os maiores e por consequência - muito mais cobiçados.

Vasos, crucifixos, nomes, datas e os famigerados e sempre exagerados epitáfios - todos arrancados isonomicamente pelos tais meliantes.

Os vivos - inconsoláveis - cobram ações da prefeitura a fim de obterem mais um consolo pelos entes queridos privados da ostentação do post-mortem.

Ah, os vivos...

Sempre os vivos destilando seus desatinos e demências aos quatro ventos. Presos em um remorso egoísta da falta do amor e da admiração prestados aos que morreram e da necessidade doentia de tornarem míticos aqueles que, em vida, eram criticados, ignorados, desrespeitados, incompreendidos, invejados e quase sempre menosprezados diante da nossa boa, velha, narcísica e egocêntrica arrogância...

O amor que apregoamos nada mais é do que a expressão do eu dizendo:

"Olha com sou 'bom' - capaz de suportar os defeitos de fulando e ainda sim conviver com ele - mesmo sendo eu cheio dos mesmíssimos defeitos que reprovo intimamente e que propago suportar nos outros!

Agora que morreu, o elogiarei estriônicamente para abafar em mim e de mim mesmo todo o rancor acumulado, dissimulado, cultivado e suprimido dos olhares alheios - cuidadosamente trancafiados nos porões recôndidos do meu inconsciente deformado!"

Ora, que falta faz aos mortos um Cristo martirizado, um vaso cheio de flores mortas ou nomes e frases falsas - rebuscadas e confeccionadas em metal?

Sob as tais campas, pouco importam as aparências externas. Quem se importa se depois da morte o seu nome esteja escrito (ou não!) em bronze, aço, ouro ou tinta?

A menos que os próprios reivindiquem o brilho do metal polido a cada visita que se lhes faça, certamente os desencarnados pouco deverão se interessar no que possa ter sido feito de seus adornos.

Uma vez que todos eles sequer têm controle sobre o que vai acontecer aos seus próprios ossos...

Sugiro que nos preocupemos mais com o reconhecimento das pessoas em vida do que com o enfeitamento desmesurado dos cadáveres fétidos, rijos e putrefatos que carregamos à cova para a qual um dia também seremos carregados...

Afinal, não é à toa que também podemos associar a expressão "alma penada" à ideia da ausência de peso - exatamente por nada possuir, nada carregar consigo, nada querer e de nada necessitar - apenas o usufruto de toda a leveza de não mais continuar existindo.

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Ps:

Aos ladrões, que façam muito melhor proveito de mais estes "vis metais"!

Não concordam, caros e esclarecidos leitores? - rsrsrs - 🥃

Maiêutico Com Cicuta
Enviado por Maiêutico Com Cicuta em 25/11/2022
Reeditado em 25/11/2022
Código do texto: T7657606
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