APENAS BONITO

Convidada pelo meu marido que ia participar de um encontro de presidentes de Caixas de Assistência dos Advogados (como representante de um dos 27 estados da Federação, o Maranhão), saí do Rio de Janeiro, onde cursava o doutorado, rumo ao Mato Grosso do Sul, embarcando no aeroporto Tom Jobim ou Galeão, na Ilha do Governador, portanto, bem próximo ao Campus da UFRJ.

Era uma linda tarde do mês de abril, e, da minúscula janela do avião, eu observava parte do mundo que se descortinava aos meus olhos. Eram exuberantes bordados e verdadeiros revoluteios, que se curvavam e recurvavam-se em arquiteturas sublimes: ora retilíneos traços que em suas várias formas desenhavam quadros, por entre a espessa paisagem lá embaixo, já bastante alterada pelo homem. O quadro levou-me à reflexão sobre como nós, seres humanos, operamos no planeta Terra!

O encontro, em Bonito, lugar que faz jus ao nome e que fica a cerca de 270 km de Campo Grande, donde saímos numa van a caminho do hotel, onde nos hospedaríamos. Ao contrário de muitos que pesquisam sobre o que vão encontrar numa viagem dessas, dei preferência à surpresa do encontro, pois eu queria avaliar a sensação que os meus olhos experimentariam. Pois bem, chegando ao Hotel Wetiga (uetirrá) na língua Kadiwéu (tribo localizada a oeste de Mato Grosso do Sul) que significa Pedra, fomos recebidos por grupos que expressavam costumes culturais do lugar, em vestes, em danças etc.

De pronto percebi, logo na chegada, que algo diferente ali se oferecia. O hotel, como ele próprio se define na placa de apresentação, é um “hotel de natureza”. Por quê? Além de cravado bem no centro da cidade de Bonito, sua arquitetura soberba e ao mesmo tempo sublime, mistura madeira, concreto, alvenaria e cimento, numa concepção de rara beleza arquitetônica que o integra ao espírito natural e cultural da região, fonte do turismo que o alimenta. O projeto, segundo consta, foi inspirado nas paisagens locais e dialoga com a sinestesia humana. Os corredores que levam os hóspedes aos seus apartamentos simbolizam as trilhas das matas. O seu majestoso jardim lembra a nascente de um rio corrente, que termina com uma queda d’água na piscina.

Ali, a equipe do evento nos esperava com roteiros de passeios exóticos, exuberantes e variados, para atender a quaisquer gostos por aventuras das mais leves as mais radicais. Na manhã seguinte, a primeira opção apresentada, foi um passeio ao Rio do Peixe: uma caminhada pela Fazenda Água Viva, um dos cenários mais belos e paradisíacos da região. O passeio consistia em duas etapas: a primeira, um percurso de aproximadamente1.600m, passando por várias cachoeiras ornamentais, piscinas naturais e pequenas grutas submersas, facultando fascinantes mergulhos e banhos ao final da caminhada. Nesse percurso, descortinam-se aos olhos do turista, além de uma flora deslumbrante, macacos, araras, tucanos, entre outros animais daquela rica fauna.

No intervalo para o descanso após o passeio, ofereceram na sede da fazenda, um almoço sul-mato-grossense como exige um bom figurino gastronômico, com direito a descanso em redes de coro, tipicamente regionais. A sesta não é de muito sossego, pois ao som dos gritos dos macacos que festejam a toda hora a alegria do encontro com os humanos. Eles saboreiam tangerinas não só colhidas por eles, mas descascadas para chupá-las, deixando no ar um cheiro acre-doce de fruta fresca.

No mesmo dia o passeio inclui outro percurso de aproximadamente 800m, passando por mais alternativas de banho, contemplação da natureza e inteira sinergia com ela, quando o turista despenca das tirolesas dentro de rios correntes e de águas cristalinas. No final da tarde, de volta à sede da fazenda, a chamada é sorver um diferente e delicioso lanche ao som dos “causos” do proprietário que, junto aos visitantes, oferece bananas aos quase trinta macacos dali. Os mais espertos, ironicamente, vêm pegar o naco de banana, depositam em algum lugar e faceiramente voltam, para pegar mais, numa demonstração de que até os animais usam de espertezas para se darem bem na vida, onde ter mais é a lei dos humanos...

O mais interessante no meio disso tudo é que o dono da fazenda convida uma certa Lara para uma sessão de fotos. Atônitos, os curiosos olhares observa tratar-se de uma arara azul que desce, em voo rasante, das palmeiras que circundam a casa. A Lara, faceira e charmosa, vem cantarolando “laralaralara” e pousa, segundo ordena o seu amigo, no ombro de quem quiser tirar uma foto para registrar o prazeroso deleite do passeio e do encontro com a Lara, cuja raça está quase extinta!

Outra beleza ímpar, a Fazenda Ceita Corê, em língua tupi-guarani “Terra de meus filhos. Esta exibe-se como uma das mais bonitas e tradicionais da região, com belíssima casa à beira de um lago de águas cristalinas, onde um passeio de barco leva o visitante à nascente do Rio Chapena e a uma trilha (de aproximadamente 1800m) composta de seis cachoeiras de tufas calcárias e pequenas grutas, além de piscinas naturais e carretilha na mata ciliar adentro...

São tantos e belos os roteiros que em tempo curto não há espaço e tempo para abarcá-los. Então, o que resta? De volta para a minha temporada no Rio, onde também a natureza desfila soberba, volto a refletir sobre como nós seres humanos operamos neste planeta, particularizando São Luis que, sendo uma ilha, também tem seus atrativos, mas tratados com descaso pelo nosso povo, infelizmente!

Camila Nascimento.

Rio de Janeiro, abril, de 2011.

Camilamsn
Enviado por Camilamsn em 29/11/2022
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