Quando não se pode com, junte-se?

Confesso que tô cansado de ir no mercado, açougue e na padaria e pedir trezentos, quatrocentos gramas de alguma coisa e ser "corrigido'.

- O Sr. quis dizer trezentas gramas de bacon. - retruca o açougueiro mal humorado. Eu tinha vinte anos nessa época, ele usou o senhor ironicamente.

Eu respondo: - isso, trezentos.

Ele vai lá no fundo, balançando a cabeça negativamente, conversa com os colegas de trabalho, volta rindo (da minha ignorância, naturalmente). E solta, novamente de cara fechada: - Esses jovens!!!

A menina da padaria é mais gentil, fala baixinho, aproximando-se de mim, como que tendo o cuidado de não me expor.

- O Sr. quer trezentas gramas de mortadela?

- Isso, por gentileza, trezentos gramas de mortadela defumada.

Pelo menos, embora sem razão quanto ao suposto domínio da língua, ela tem boas intenções.

O "senhor" dessa vez faz mais sentido, é digno de nota isso, já tenho 44 anos. Ela me entrega o pacote e vou embora pensando que vinte e poucos anos se passaram e pouca coisa mudou. É uma das lições que fica, o tempo não muda as coisas substancialmente, não por si só. A educação é um processo que leva tempo, aliás, para ter o efeito desejado. Mas quase não se investe em educação nesse país. Contenta-se com diplomas e números.

E essa constatação dói muito mais que as supostas correções em público. Quase nada mudou porque não se investe naquilo que é a ferramenta capaz de fazer tudo mudar para melhor.

Logo, sigo pensando, a caminho de casa, há bastante tempo sigo pensando se não seria melhor pedir meio quilo da próxima vez. É apenas um momento de desânimo, falo para mim mesmo. Precisamos continuar insistindo na educação e com educação.