Superstições

Nunca vi pessoa mais desconfiada e supersticiosa do que a Maria Alexandra, minha amiga. Já falei para ela que mentalizar negatividade só atrai, mas ela é teimosa e insiste em pensar que o universo inteiro conspira (e a copia) não importa o que faça. Só falta jogar tarô para saber se é prudente sair em determinado dia ou não. Para começar ela disse que na maternidade “roubaram” o nome que sua mãe lhe deu por ser chique e bonito. Assim, a filha da parturiente que teve bebê na mesma enfermaria recebeu o nome de Maria Alexandra.

- Mas Alexandra, tanta gente tem esse nome, não é marca registrada sua.

- Você que pensa, com Maria na frente só o meu!

Ela cisma com números misteriosos, déja vu e sempre faz caminhos alternativos entre a casa e o trabalho para não ser seguida.

- Nunca se sabe e mais vale prevenir do que remediar.

- Menina, e você lá é sequestrável? Acho que você é mesmo tantã das ideias com todas essas manias… Paranoia de verdade…

- Eu é que sei o quanto tenho que me defender dos invejosos. Não creio em bruxas, mas sei que existem.

É mesmo uma figura, inclusive bolou uma história dizendo que certa vez comprou um colar de pérolas de três voltas belíssimo e o simples olhar de cobiça e inveja de uma prima estragou a bijouteria fazendo as contas se espalharem pela casa toda. Arrebentou pela força da inveja. No trabalho? Segundo ela, todos se aproveitavam da sua boa-fé e copiavam suas ideias.

Realmente chateava a mim e aos demais amigos o jeito com que a Alexandra saía de férias de fininho sem comentar com ninguém “para não entrar areia na viagem”. Poxa, mulher, não dá para ter amigos e não confiar em ninguém. Nem nas redes sociais ela postava fotos de viagem porque “seguro morreu de velho”. Era duro conviver com ela devido a esse temperamento esquisito.

Aos poucos fui observando que Alexandra também copiava as outras pessoas e não era por admiração. Perguntava onde as amigas compravam suas roupas e sapatos e ia lá comprar, até o corte de cabelo ela copiava mesmo que importasse em atravessar a cidade para isso. Pois é, a jovem sofria de espelhamento alheio e por isso esperava que todos agissem da mesma forma com ela. Dessa forma, seria impossível manter uma relação saudável no melhor estilo ganha-ganha onde todos saem lucrando felizes. Ainda não tive coragem de olhar nos olhos da Alexandra e dizer: Esqueça os outros e vá a luta, procura uma terapia, Alexandra, senão ninguém te aguenta!