Amanhontem (ou O Experimento Verídico do Clube do Terror)

Testei, num outro dia, uma fita cassete virgem e um antigo gravador Sanyo (japonês e do fim da década de 1.970). O danado se mostrou muito bom para se fazer a captação do ambiente. A fita magnética (uma Sony, igualmente de época [circa 1982]) reproduziu o conteúdo com clareza... (Cristo Rei! São 40 anos de existência e ela estava lacrada... Como é possível? "Fatores como armazenamento em ambiente livre de umidade, de calor e de magnetismo realmente favorecem a preservação de um tesouro midiático desses", alguém poderia comentar....).

Subconscientemente eu procurei fazer um registro à la Friedrich Jurgenson (o cineasta autor de "Telefone para o Além"); isso acabou se mostrando profícuo sob esse mesmo ponto de vista. Porém... os envolvidos na experiência (quatro alunos com idade inferior a 15 anos) se assustaram com o resultado. Pois ele era nítido (ah, como eu queria que fosse "mítico") e... rítmico (perdoem o tom de rima, o tom de trocadilho, sim?) – ora, era rítmico, sim. E embora tímido (caramba: o tom de paronomásia persiste!), uma faixa sonora (faixa sonora: camada de áudio independente do áudio produzido/esperado numa gravação; logo, representa, aqui, um substrato sonoro do além, como veremos mais à frente), em tom parasítico (perdão; permitam-me efetuar uma correção necessária: em tom paralelo) ou melhor, em tom de interferente. De qualquer modo, havia (a forma do pretérito imperfeito se explica: existia uma necessidade de o fenômeno observado se manifestar quando houvesse a oportunidade para tanto) uma chance única, in momento, de aquela voz se fazer audível. Quanto eu reproduzia a fita, em dado ponto dela se poderia ouvir uma voz distante e, ao mesmo tempo muito próxima, de um sexto indivíduo presente. E que dizia "Bom estar aqui com Vocês, jovens aprendizes..." (claro que, para tanto, eu precisei de posicionar meu microfone condensador em frente ao alto falante do Sanyo, pois assim nós teríamos uma amplificação do sinal sonoro). Eu, que já tinha feito algumas experiências dessas alguns anos antes, acabei estranhando o ocorrido. Já os estudantes ficaram em silêncio, olhando-se, por alguns instantes, em visível espanto. Essa experiência me marcou muito e, depois disso, eu procurei nunca mais repetir algo assim. Porque sei que uma hora eu iria ter problemas por conta disso...