QUEM PODERÁ DIZER?

Alguns leitores costumam dizer que “antigamente tudo era muito melhor”. É claro que a gente só consegue visualizar o passado, tudo aquilo que foi vivido, deixando inúmeras experiências. Se as coisas eram melhores ou não, acho que só o futuro dirá. Por isso, a minha humilde análise de hoje.

Em 1960 eu tinha dezessete anos, trabalhava em um escritório de contabilidade ganhando meio salário e sem registro em carteira, justamente por ser aprendiz. Estudava no ginásio do estado, cursando a terceira série pela terceira vez. Quem não sabia, não era aprovado mesmo! E sem direto a qualquer reclamação, muito menos com os professores. Naqueles idos, as coisas eram assim mesmo. Melhores ou piores que hoje? Quem poderá dizer?

Os namoros eram bem inocentes. Havia uma espécie de ritual para a conquista, começando pela simples troca de olhares na praça, que podia durar meses sem nenhum progresso. As moças, pelo menos a grande maioria, só podiam sair de casa três vezes por semana, com horário inflexível para o retorno, geralmente ali pelas nove e meia da noite. O cinema era a grande diversão e o único refúgio para os mais apaixonados. É evidente que já existiam alguns exageros, embora raros. Naquele início dos anos sessenta, com os ventos da modernidade começando a soprar, tudo era assim. Melhor ou pior que hoje? Quem poderá dizer?

Já no final da década de sessenta, início dos anos setenta, as mudanças haviam chegado com a introdução da míni-saia, entre outras coisas. Os horários tornaram-se mais flexíveis, as moças já podiam freqüentar lanchonetes e algumas até fumavam em público. As escolas ainda possuíam uniformes e muitos professores conservavam a velha e boa rigidez e os alunos aprendiam. Nas cidades do interior, os mais velhos diziam que os namoros estavam ficando muito apimentados. Dançar bem juntinho era uma realidade e muitos casais levavam isso bem a sério. As jovens podiam ir às brincadeiras dançantes sozinhas e voltar para casa com quem quisessem. As roupas ficaram mais justas e coloridas, enquanto a música popular tomava novos rumos, adotando letras mais sensuais. Contudo, ainda existiam grandes distâncias com a atualidade.

O ritual do salto alto, nas décadas de quarenta a sessenta, representava muito mais que um sonho. Era o fim da juventude, início da idade adulta. Hoje, crianças de sete, oito anos, usam roupas sensuais e sapatos de salto. Não raras vezes comportam-se como astros de televisão. Pintam os lábios, inclusive. O erotismo, aquele com o qual tanto sonhávamos, faz parte de suas vidas. E muitos pais acham graça. Somos modernos, dizem. Realmente os tempos são outros. Melhores ou piores? “Quem poderá dizer?...