A imanência do aeroporto

Era um dia comum, ou comum dia?

Não sei ao certo...

Vi as mais diferentes mentes e corações seguirem para um mesmo destino. Aqui não há o teatro, pois do que valeria um pequeno espetáculo para os grandes atores? Algo tão vil, ou não?

Não vejo personagens, ou atores. Só aqueles quem são por serem si mesmos. Aqui muitos podem ser quem são, essas leves almas livres em encontros e desencontros. Partidas e inícios. Por aqui há bom dia para quem é de bom dia, há boa noite para quem é de boa noite, há Oxalá para quem é de Oxalá e benção para quem for de fé.

Em um vão (in)finito, abrem-se e fecham-e os portões, que mais fazem sofrer e sorrir do que teatros. Há quem dói por deixar uma vida inteira para trás, choram com vontade de ficar; há quem sente medo por ver um universo tão gigantesco para contemplar e existem aqueles com frisson ao ver o tudo e o nada.

Eu só observo. Viajo desde já para além dos limites, que minha mente pode chegar. Ando. Ando. Tudo é diferente, mas igual. Olho ao meu lado e há uma moça de cabelos negros e cacheados a fazer mágica, minha visão se perde por suas mãos e meu peito pela emoção. Me engano em suas ilusões como já me enganei com a busca pela verdade. Às vezes, só há não respostas. A verdade é legal, ela é feia, e por alguns momentos é só uma palavra chata. Posso até saber como tudo funciona, mas o quão prazeroso é deixar a racionalidade para lá, olhe o que ela faz com a cartola, olhe o que ela faz com as mãos. É incrível. Minha passagem pode ter sido efêmera, mas foi e será longa em minhas lembranças. Mais a frente vejo um garotinho de olhar profundo ao observar para tudo e todos, sentido cada pitada de dor e amor, para ele este momento é o momento que deveria ser repetido milhares de vezes, pela primeira vez na vida ele sente: a liberdade. Além disso, consigo carrega uma mochila maior do que parece, com tanta bagagem que ninguém imagina que há, muitas coisas, muitas reflexões, muitas dores e muitas felicidades.

Um pouco mais à frente vejo um homem com um boné e uma barba enorme por deixar por fazer, carrega coisas que não consigo compreender, ele não está tão distante de mim, mas ao mesmo não consigo ver tanta coisa. Consigo ver pessoas próximas a ele com clareza, porém ele é só um figura embaçada para minha visão. Coloco meus óculos e ainda não consigo ver bem. Creio que só quando eu mudar minhas lentes do mundo conseguirei vê-lo, caso um dia o encontre novamente. Parecia sábio e alegre. Mas, quem vai saber?

Continuo a andar feito o andarilho que sou, conhecendo e vivendo o tudo, o nada e o avesso das coisas. Caro leitor, são segundos, minutos, horas que unem muitas vidas, almas e energias. Quem dera se eu pudesse descobrir os tesouros mais escondidos em cada alma? Mas, não é meu papel descobrir todos os tesouros, só aqueles que precisam ser descobertos.