O Círculo da Morte

Hoje pela manhã estava observando as formigas caminhando roboticamente pela parede. Impressionante como todas seguem o mesmo caminho sem sair um milímetro sequer da rota traçada, como se fossem minirobôs perfeitamente programados. A ciência explica: a primeira formiga a iniciar a rota libera o feromônio da trilha, desde então, as formigas que a seguirão detectarão o caminho por meio de seu olfato e comunicarão às demais através das antenas. Há inclusive um fenômeno curioso chamado Círculo da Morte, que ocorre quando uma formiga libera o feromônio equivocadamente ao pensar que está no caminho certo para conseguir uma comida. Ao se perder por sentir o próprio cheiro emitido pelas antenas, ela gera uma espécie de alarme falso às outras formigas, pois elas vão à busca de um alimento que nunca aparecerá. O erro gera uma reação em cadeia que leva milhares de formigas a ficarem girando até morrerem de exaustão.

Dito isso, me veio a mente um paralelo com nosso cotidiano. Se não tomarmos cuidado podemos cair em nosso próprio Círculo da Morte, só que ao fenômeno humano se dá um nome um pouco menos trágico: rotina. Como as formigas, temos nossos dias devidamente programados e muitas vezes se resume a: acordar, comer, trabalhar, comer, trabalhar mais, comer mais e dormir, com um ou outro momento de lazer. Uma vez que entramos nesse Círculo da Morte é difícil de sair, e permanecer nele é pôr em risco a vida dos nossos sonhos.

E como apagamos os limites desse círculo? Deixando de ser formiga. As formigas são obstinadas, tudo que fazem é terrivelmente restrito e repetitivo. Para elas, a vida só funciona assim, cada formiga cumpre fielmente seu roteiro para o sucesso do funcionamento do superorganismo denominado de formigueiro. Para nós, é justamente o inverso. Temos que sair da trilha sempre que possível, permitir se perder por paisagens desconhecidas. Quanto mais horizontes novos vislumbrarmos, maior será a nossa felicidade, e por isso viajar é tão gratificante, é quando nos perdemos que estamos de fato nos encontrando.

No nosso caminho encontramos e desencontramos milhares de formigas. Cabe a nós, através de nossas mentes antenadas, comunicar aqueles que se cruzam conosco toda a bagagem que colhemos e sempre que possível guiá-los para que encontrem a sua comida, aquilo que falta para os fartarem. Assim como eles nos mostrarão onde buscarmos o doce. É nosso papel derrapar nas curvas desse círculo mortal. Podemos até nos machucar algumas vezes, porém, seguiremos em frente, rumo ao caminho certo, que é destino nenhum. O tesouro da felicidade não se encontra em mapas.