O PELÉ AINDA NÃO MORREU

Quando tem algum acidente de trânsito, a via contrária fica congestionada porque os motoristas são curiosos pra ver o que aconteceu. Há neste interesse algum componente mórbido, expresso pela vontade de ser testemunha ocular de uma tragédia, especialmente se tiver muito sangue à vista. Sentimento parecido ocorre quando alguma personalidade tem problema de saúde, especialmente se for grave ou sofre atentado. Jornais, revistas, rádios, redes sociais etc. já deixam pronta a biografia póstuma, aguardando apenas a hora de publicar, evitando atropelos de última hora. Fico pensando na motivação de tanta gente que viaja muitos quilômetros só pra ver um caixão fechado de alguém que nunca teve contato físico em vida. Talvez faça isto com a intenção de se despedir pela última vez, mesmo sabendo que, do morto, só terá lá uma fria matéria em decomposição e nada mais. Vejo na internet notícias diárias sobre o Pelé e muitas delas ressaltam o fato dele ainda estar vivo, rebatendo notícias de que tenha já morrido. Qualquer pessoa com 82 anos, apresentando um quadro de câncer de cólon em estado grave, com metástase no fígado, intestino e pulmão, tem sérios riscos de perder a vida. Ao invés de aceitarem este desfecho natural e previsível, sendo só questão de tempo o óbito, ficam querendo prolongar o seu sofrimento até onde der. Mesmo sendo o Rei do Futebol e reverenciado legitimamente pelos quatro cantos do planeta, o Sr. Edson Arantes do Nascimento é ser humano como qualquer outro, com começo, meio e fim da própria trajetória. Que descanse em paz, quando for a sua hora, pois cumpriu a sua jornada com mérito que nunca será esquecido.