Brasinhas ideologicamente ardentes!...

Nem bem caíra a ficha do avermelhado resultado das eleições presidenciais na cachola dos inquietos eleitores e militantes partidários bolsonaristas e lulistas...

...E a prosa matinal na extensa fila de entrada formada no estacionamento daquela megaloja verde e amarela ia animada, pra lá de interessante e animada, até que as atualmente discrepantes e separadoras discussões políticas se fizeram perigosamente presentes ali.

Era um tal de blábláblá, tralalá, cuidado lá!... Até que uma simpática e mui bem apessoada senhorinha chegou chegando, e logo, bem logo revelou-se uma petista radical ávida por vinganças, mais, bem mais que aquele enlouquecidamente quixotesco cavaleiro avançando de espada em riste contra impassíveis e incólumes moinhos-de-vento, sem nunca dar ouvidos ao racionalismo de seu "pançudo" escudeiro, no respeitabilíssimo clássico literário de Miguel de Cervantes.

Assim chegou a tal senhorinha... Também desembainhando sua espada, felizmente ainda imaginária, contra todos os eleitores e militantes do governo bolsonarista, esse que, segundo ela, obrigou toda a pobreza brasileira a trabalharem arduamente e dançarem miudinho, miudinho, para ganhar o pão de cada dia nos últimos quatro anos. Foi até legal ouvi-la no seu saltitante arrazoado...

- E o senhor, aí todo bem falante... Certamente também é apoiador do "negacionista", não?

- Calma, calma, minha senhorinha! Eu defendo apenas minhas próprias opiniões. Aliás, diferentemente da esmagadora maioria brasileira em tempos de eleições, eu não tenho ladrões de estimação.

- Ladrão de estimação? Tô sabendo em quem o senhor está pensando, tô sabendo...

- Então está resolvido. Melhor assim, com tudo esclarecido.

- Hurrrr...

- Calma, calminha aí, senhorinha!

- Calminha uma ova... Ninguém me engana que o senhor é bolsonarista! Vai ver está armado, o falador...

- Não, não, eu não costumo andar armado por aí desde os meus bons tempos da Artilharia...

- Tá vendo? O senhor também é "dos fardados" e aqui assim, todo disfarçado e negando ser bolsonarista... Está me saindo um belo Pedro negacionista, caso já tenha lido a Bíblia... Vai, vai, confessa logo e aceite a derrota nas urnas que dói menos.

- Loucura isso... Imagine essa senhorinha entrando pra vida partidária? Onde estou que não me chispo daqui imediatamente...

Embora ali naquela sua volúpia fanática ela esquecia, ou se fazia de esquecida, dos múltiplos Auxílios Emergenciais, Vale-gás, Armazéns da Família, Restaurantes Populares, Saúde Pública, Creches, Moradias Populares, Titularidade de Propriedades Rurais, etc, etc, etc. Tudo isso que cria pesados e sacrificantes encargos assistenciais para os demais cidadãos produtivos, aqueles componentes da sociedade que realmente carregam nas costas o pesadíssimo e nem sempre legítimo sistema político, administrativo e governamental brasileiro e a assustadoramente crescente multidão de parasitas sociais que, ao que se depreende eleição após eleição, só servem para votar nos mesmos hipócritas políticos de sempre.

Isso tudo e mais um naquinho pensei com meus arrazoadores botões septuagenários, que ali fui intimamente forçado a reconhecer que não tinha muito mais que fazer racionalmente, sem provocar a ira "democrática" daquela atraente senhorinha e, por tabela, de um tal senhor Alexandrino Morales, ao que parece, o verdadeiro autoproclamado ditador supraconstitucional nas suas estranhas decisões interpretativas de nossa judiada Constituição Cidadã, atos impopulares tais, covardemente aceitos pela totalidade da quase sempre enlameada classe política e coligada influente parcela social, mesmo que assim, revelando-se como estapafúrdias fiscalizações cívicas o mais das vezes à margem da Constituição, coroadas por algumas "concessões especiais de cidadania" e suprema proteção a especialíssimos sentenciados políticos, bem como a alguns poucos amigos (bem ao contrário de tantos bobos...) da corte hereditária brasileira.

Mesmo assim não deixo de reconhecer que o governo de Jair Bolsonaro passou mais rápido e contraproducente que uma apática partida de futebol, em que a bola não rola mais que quarenta e cinco por cento do esperado tempo total real, que nisso ele foi prejudicado realmente...

...E também aqui não posso deixar de dar ao menos um pontinho inicial para Lula, ele que tem conversado bastante com o admirável e correto político de esquerda Pepe Mujica, do Uruguai, e assim, quem sabe, tenha retornado disposto a fazer dois excelentes mandatos presidenciais, finalmente fazendo por merecer entrar para a História Política Contemporânea pela porta da frente, doravante tirando o Brasil dessa horrenda mesmice atravancada pela roubalheira do dinheiro público, corrupção institucionalizada e atraso social e tecnológico. Quem sabe...

Voltando ao acalorado dissemedisse com a simpática mas aguerrida senhorinha no pátio da loja, a partir dali a prosa foi ficando umtantoquanto pesada e ameaçadora, pois até então aquela ainda simpática senhorinha disse aos quatro ventos que jurava que eu era um bolsonarista safado e discriminador, ali dando uma de doutorzinho em ciências políticas ou os raios que os partissem...

...Ou quem sabe (segundo suas palavras) até mesmo um inescrupuloso fascista ou um deplorável neonazista. Tudo isso segundo suas palavras... Ai, ai, ai, socorro, minha santinha habladora!

Palavras, duras palavras de uma lulista ali autodeclarada com todas as letras, acentos de tonicidade e gestos. Foram ali muitos gestos pesadamente ameaçadores.

E pensar que até então aquela irresistivelmente simpática e atraente senhorinha nem ao menos desconfiava de minha ancestralidade alemã, e presente ocupação social literária...

Assim foi o verbalmente agressivo bate-boca político, até que os também mui simpáticos funcionários da Havan liberassem a entrada da longa fila de clientes matutinos. Ouvi dizer que disseram (?) pelaí que aquilo tudo que ali ocorreu comigo e aquela esclarecida senhorinha mais ainda ajuda a fortalecer a Democracia. Seria bem legal isso, não?

Entretanto, eita que tinha de aparecer um entretanto aqui, outras duas quase mais ainda simpáticas e faladoiras senhorinhas, assim como a primeira, acabaram chegando afoitamente no ardente diálogo político e logo, bem logo, tentavam matar a cobra e mostrar seus paus, avermelhados e ameaçadores paus... Aliás, foi minutinhos depois da nova verborragia reinante que me dei conta da importância de entender que para elas a "cobra" ali era eu. Eu e ninguém mais.

Cruz credo, socorro Bertha, minha mulher do céu!

Não queiram ao menos imaginar o que as outras duas senhorinhas despejaram-me sem dó nem piedade, em forma de interlocução e militância (delas) político-partidária...

Nem mesmo eu sei como, e onde encontrei, diplomacia e educação cívica suficientes para mais alguns minutinhos daquela prosa "democrática", aquilo que na verdade, explícita verdade, não passou de amedrontadora e cutucante "peleja democrática" como dizem os bons e parrudos gaúchos; confesso que fui saindo de fininho dali, temporariamente desistindo até mesmo de ao menos tentar comprar uma "bíblia creditícia" na forma de uma TV de cento e tantas polegadas pra ver a Argentina apertar o Brasil na Copa Fifa de futebol, que apenas nisso devemos continuar sendo inimigos ferrenhos dos nossos vizinhos hermanos, heheheaiaiaiaiiii...

Embora, ( agora foi a vez do embora aparecer, viram só?) o derradeiro e ameaçador ápice daquela sonoríssima prosa pública aconteceu numa última, impressionante e perigosíssima fala da primeira senhorinha, inegavelmente a mais encantadora e empolgada das três, mesmo que ali exageradamente "avermelhada" para este meu dificilmente atendido gosto partidário, repentinamente disse em alto e bom som:

- O senhor escute só isto, que em mais de vinte e cinco anos de matrimônio eu nunca, nunquinha mesmo, nem ao menos sonhei em trair meu sofrido marido... Então, por que isso aconteceria agora, senhor? Vamos, vamos, responda-me se puder.

- Sei lá da sua vida conjugal, minha senhora!... Mas por que mudar de assunto agora?

- Por que, por que... Porque o senhor tá me parecendo um integrante da Operação Lava-Jato, ora bolas...

- Eu, hein?...

Cá entre nós, eu realmente estranhara aquele seu último palavreado, embora (mais uma vez o embora...) a palavra "sofrido", quando ela se referiu ao seu quem sabe mesmo quase certamente sofrido marido, ( e então eu mesmo não estava ali sofrendo e quase me revoltando em sua língua afiada?) ficou martelando e ardendo em minha mente. Afinal, quase toda a estridente conversa foi centrada numa franca e ostensiva discussão política, não foi?...

Foi então que, num estalo de racionalidade, compreendi completamente toda a sensualidade e consequente perigo passional daquela sua esfuziante "isca" contida no comentário sobre o "marido sofrido", e assim compreendendo dei mais alguns passinhos para o lado (juro que não o dela...) assim meio disfarçadamente, e acabei saindo sorrateiramente e embrenhando-me na pequena multidão presente que já começavam a aplaudir e vaiar nossa performance...

Tô fora de quaisquer septuagenárias encrencas extraconjugais! Mas tomara a "minha" mulher não venha a interpretar erradamente isto que agora vou dizer, quando sinceramente não me pejo em afirmar que aquela elegante senhorinha, minha esquentada interlocutora ali vestindo casaquinho vermelho com saia preta, formava uma figura deveras interessante e difícil de esquecer, o que isso é bem verdade.

Isso tudo realmente aconteceu, e sendo eu este privilegiado fofoqueiro "literário", nem bem cheguei em casa e mergulhei no computador para contar "quase" tudo a vocês, meus amados e pacienciosos leitores.

Agora, imaginem o final desta história caso eu realmente fosse um declarado adversário ou inimigo partidário daquelas falantes senhorinhas (aqui lembrei as aceitáveis e politicamente combativas senadora e deputada federal Simone Tebet e Gleisi Hofmann), e então não pertencendo a este nosso assimmeioassim acovardado e civicamente irresponsável movimento político "nem um, nem outro", nestas eleições presidenciais que, moral e indubitavelmente, apresentaram os piores competidores possíveis no seu turno decisivo.

Mas querem saber o ensinamento moral disso tudo, mesmo? Isso deixo a cargo da profunda reflexão de cada um que tenha lido esta minha crônica até aqui...

...Aliás, não sendo eu nadicadenada escravo do corrompedor dinheiro ou do estridente sucesso material - embora, mesmo assim, com primoroso esforço, árduo trabalho e amorosa dedicação familiar tenha sido abundantemente abençoado pelo Pai Celestial e assim conseguido ajudar minha esposa e nossos quatro filhos a concluírem seus escolhidos cursos superiores, relacionadas especializações e primeiros desempenhos profissionais - acredito piamente que até mesmo o simpático senhorzinho do "carro das pamonhas", sempre e sempre a passar e tagarelar diante de nossos portões lucre mais, bem mais que eu em frios cifrões reais, em justa contraposição a esta minha atividade atual...

Mas que tal o último lance da seleção feminina brasileira de futebol no aguerrido confronto entre Brasil e Canadá, justamente no momento em que eu finalizava este texto? Essas meninas ainda vão concretizar nossas esperanças futePelísticas... Ah, isso vão!!!

Armeniz Müller.

...Oarrazoadorpoético.