Furão

Um dia deste, veio morar conosco, um cãozinho que meu filho ganhou. Tem o pelo preto, lustroso, e umas manchas marrons no fucinho e nas patas. Sua semelhança com o furão, um animalzinho muito conhecido das matas brasileiras, sugeriu-lhe o nome. No primeiro momento, o nome pareceu muito estranho e esquisito. Mas com o tempo, pegou e tornou-se bastante simpático. Hoje, cai-lhe muito bem.

Furão é um cão muito afetuoso. Gosta muito da companhia humana e adora crianças. Está sempre por perto de um de nós e age como se fosse nossa sombra. Acompanha-nos pela casa, principalmente, a minha mulher que se diz sua mãe, e é quem cuida da sua comida e de seu conforto.

Tem o instinto apurado. Muitas vezes acho que pensa que é gente. Quando alguém chega em casa, começa a latir, mas depois que reconhece o visitante, sorri abanando o rabo veementemente. Se algum desconhecido se aproxima, ele late forte para impor respeito. Só que é mais um ritual de recepção do que de fúria, não morde ninguém. Cheira a roupa do visitante, procurando reconhecê-lo e depois, volta para o seu canto.

Seu instinto apurado sente quando vamos sair de casa e deixá-lo sozinho. Fica triste, mas, conformado. Fica prostrado no sofá da sala e lá passa o tempo esperando, dormindo.

Parece uma criança de tão curioso. Presta atenção em tudo que fazemos. Com seu olhar de detetive descobre logo que tenho alguma coisa na mão. Aí, pula para alcançá-lo ou fica observando para ver onde eu a coloco e depois tenta pegá-la. Às vezes me pego falando com ele, como se fosse gente. Parece que ele me entende e olha-me como se tudo estivesse claro.

Como todo cachorro, gosta de brincar com bola. Mas, o que ele mais adora é brincar com garrafa PET vazia, deliciando-se com o barulho que ela faz quando a arrasta pelo chão. Não tendo nada interessante para fazer, dorme. Muitas vezes, ao se levantar, sacode o pelo como se estivesse molhado ou expulsando as pulgas. Não sei por que faz isso.

Do sofá, só sai para comer ou acompanhar a minha mulher pela casa ou passear na rua. Sua alegria é completa quando alguém o chama para passear. Essa palavra ele já conhece e funciona como uma mágica. Para tirá-lo do sofá é só pronunciá-la. Ao ouvi-la corre para porta e começa fazer piruetas e latir. Quando a porta é aberta, ele sai correndo para a rua. Lá brinca e também faz outras coisas mais. Adora molhar os pneus dos carros.

Um dia deste, não se arredava da área de serviços, postado em frente a uma caixa cheia de jornais velhos.Insistentemente, latia, abanava o rabo e não se afastava de lá de jeito nenhum. Nada o removia. Nem a palavra mágica passear, funcionava. Intrigado com aquela sua persistência arrastei a caixa. Havia um rato escondido. Ele o descobrira pelo faro e o acuara. O pobre rato não foi suficiente rápido para escapar dos seus afiados dentes.