Velório do barro

Da última vez, o Persio, via tudo de dentro para fora, não conseguia racionalizar nada, a não ser o sentir da psique daquele momento, que se tornou um instante prolongado naquele presente futuro. Mas, dessa vez, Persio via de fora para dentro com uma visão do espectro cheio de dor, os ares estavam dotados com o cinza em tons amargos e opacos.

Surge um silêncio estrondeante, o barro sai daquele carro que o carregou por algumas horas, enquanto todo mundo olha e alguns ajudam esse barro a cair. Nesse momento, evidencia como o mundo é um moinho que esmaga todos os sonhos feito uma vida que se espalha pelo chão, ou pela rua. Tic tac. O crepúsculo começava a abraçar aquela tarde cinza observando o barro sendo levado para o centro, onde todos podiam olhar. O barro ficava lá e inúmeras almas sobressaíam sobre ele e viam, sentiam e gritavam silenciosamente. Havia uma alma em específico tal qual um arauto a ditar o que estava por vir, cada ação a estabelecer e cada olho que estava a ver. A premissa de um futuro real e concreto estava distante como uma abstração exalando no ar um cheiro de caixão. Se guarda o barro. Almas somem. O silêncio do início por uma aceitação cheia de ilusão, surge agora como um silêncio de uma lua que cai e o real se estampa em quadros da memória. Tic tac. A praça fica vazia. Almas e pessoas se esvaem e o tempo continua e alguns sofrimentos começam a surgir como árvores até serem sementes indestrutíveis…