O DIA EM QUE ESTIVE NA COLOMBO COM HITLER E GOEBBELS

 

   NOTA PRELIMINAR:

 

   Não estou aqui fazendo apologia ao Nazismo, ao que não aprovo de forma alguma esta doutrina. Longe de mim qualquer intenção em exaltar os principais nomes que a representam, mais explicitamente Hitler e Goebbels (os quais serão os personagens centrais desta crônica). O presente trabalho tem como objetivo abordar uma explicação psicológica no efeito nocivo da chamada “manipulação das massas”, que, diga-se de passagem, até o grande Freud se interessou por ele, onde inclusive escreveu um livro cujo título é “Psicologia das Massas e Análise do Eu”.

 

   Bom, acredito que psiquiatras, psicanalistas e psicólogos certamente iriam querer conversar com tais nomes. Estamos nestes tempos passando por um momento delicado quanto à conduta de muitos, a partir de sua exaltação (ao que eu diria ser um fenômeno psicótico) a um “devido nome”.  E neste trabalho procurei colocar a visão de como pensavam dois conhecidos "personagens" da Segunda Guerra Mundial, Hitler e Goebbels. Trata-se obviamente de um texto de ficção. Mas, para o conhecimento de todos, as palavras em negrito são deles próprios.

   Usei a forma de narrativa, mas misturei o estilo onde chegou a parecer uma peça teatral, com as falas de cada um (inclusive as minhas) especificadas. E tomei a liberdade literária de fugir a regras gramaticais (como, por exemplo, pontuações ou tempos de verbos). No mais, agradeço a compreensão de todos.

 

 

   O Rio de Janeiro não é tanto uma cidade de contrastes no tempo

   Não, não a defino deste modo

   É mais que isto

   Ao que preferiria chamá-la de “uma cidade paradoxal no tempo”

   Onde o antigo mora lado-a-lado do novo (do moderno)

   Construções e comportamentos que se abraçam

   E que embora são de épocas distintas não se confrontam

   Pelo contrário, se entendem muito bem

   A que tenho para mim que a “alma carioca” não envelhece

   E, interessante quando os tempos s’encontram: o passado com o presente

   Basta caminhar pela cidade, principalmente onde sua historia começou, e perceber que ela é toda nostalgia

   E se nos deixarmos levar pela imaginação, podemos até dizer que nos sentimos “n’outro tempo”

 

 

   E desta forma aconteceu comigo

   Na Rua Gonçalves Dias, número 32, centro da “Cidade Maravilhosa”

   Mais precisamente na glamorosa Confeitaria Colombo

   Oh! Entrar na Colombo para quem é um apaixonado pela História chega a ser fascinante

   É como se fosse fazer... uma viagem no tempo

 

 

   Era manhã de segunda-feira, 11 horas

   (Horário em que lá abria suas portas aos clientes)

   A semana se iniciando...

   Já na entrada fui recebido por um de seus funcionários o qual me indicou uma mesa

   Porém, optei em me dirigir ao andar de cima

   Por considerá-lo um pouco menos movimentado

   E assim fui

   Sentei-me à mesa, sendo atendido por um garçom o qual me serviu um delicioso café

   E após ter feito o meu devido pedido [no que queria], fiquei então esperando

   Contemplava com atenção aquele nostálgico cenário com toda a sua decoração e requinte

   Tudo tão mágico!

   E tudo tão lindo!

 

 

   E foi justamente nesta hora que se aproximaram dois “interessantes” indivíduos

   Vestiam-se com trajes discretos, mas impecáveis

 

 

   E com um largo sorriso, um deles assim falou:

   - Bom dia, caríssimo cavalheiro, o senhor poderia nos dar a honra de sentarmos à sua mesa?

 

 

   Bem, apesar de que eu pretendia ficar sozinho, achei que seria uma indelicadeza de minha parte em negar aquele pedido, o qual tinha sido feito com toda educação. Ao que eu lhes respondi:

   - Bom dia, senhores, fiquem à vontade. Mas, para que fiquemos aqui entendidos gostaria de saber os vossos nomes.

   - Eu me chamo Adolf Hitler e este meu grande amigo é o Sr. Paul Joseph Goebbels. E quanto ao senhor, como se chama?

   Oh! Não haveria como não ficar surpreso naquela hora. E que embora o ambiente demonstrava um “ar surreal”, onde não sabia se aquilo fosse realmente verdade ou não, mas o fato é que eu entrei “naquele clima”. E assim eu me apresentei:

   - Meu nome é Estevan Hovadick, sou um funcionário público aposentado, e que, às vezes, passeio pelo centro do Rio.

 

   HITLER:

   -“Hovadick”? O seu nome não me parece estranho.

 

   HOVADICK:

   - Meus bisavós eram austríacos e vieram para o Brasil no final do século XIX.

 

   HITLER:

   - Então é isso. Também sou austríaco, mas optei em ficar na Alemanha.

 

   GOEBBELS:

   - Quanto a mim, sou alemão, e fui Ministro da Propaganda Nazista entre 1933 e 1945.

 

 

   HITLER:

   - Sr. Hovadick, desculpe-me invadir sua privacidade, mas percebo um ar de insegurança vindo de ti. Há alguma coisa que te preocupa? Estás angustiado com algo ou, então, aborrecido com alguém?

 

   HOVADICK:

   - O Brasil está passando por um período delicado, onde muitos parecem estar acreditando que estão numa espécie de “guerra santa”. São tempos complicados, ao que chego a dizer que o país está, de certa forma, doente.

 

   HITLER:

   - Caríssimo Sr. Hovadick, permita-me dizer o que eu penso: O povo é comprometido ao seu solo, comprometido à sua pátria, comprometido às possibilidades de vida que o estado, a nação, oferece. Ou o senhor não concorda comigo?

 

   GOEBBELS:

   - A nação é a união orgânica de um povo para proteger a sua existência.

 

   HOVADICK:

   - Bom, mas não seria o que dizem os senhores... um “discurso fascista”?

 

   HITLER:

   - O bem mais precioso que você tem no mundo é o seu povo...! Ou  o senhor pensaria diferente?

 

   GOEBBELS:

   - Se esclarecermos ao homem de esquerda que o nacionalismo e o capitalismo, isto é, que a afirmação da pátria e o mal uso dos seus recursos, nada tem a ver um com outro, que na verdade são como fogo e água, então mesmo como um socialista ele irá afirmar a nação, que ele desejará conquistar.

 

 

   HOVADICK:

   - Meu Deus, será que os senhores só pensam em termos de “Estado”? E o o indivíduo em si, ele não importa?

 

   HITLER:

   - Pelo amor de Deus digo eu. Aceite a minha opinião: Os dias da felicidade individual se foram.

 

   HOVADICK:

   - Mas para isso, seria mesmo preciso eliminar o indivíduo de forma que só o “Estado” se torne "o mais importante", ou, em outras palavras, mais importante que o próprio indivíduo?

 

   GOEBBELS:

   - É uma questão de formar uma nova consciência do estado que inclua todo cidadão produtivo.

 

   HOVADICK:

   - Então, pelo que entendi, os senhores estão propondo um “Estado idolatrado”, aos moldes do lema fascista “Deus, Pátria e Família”, que diga-se de passagem foi bem defendido por um conhecido amigo de vocês, o Sr. Benito Mussolini?!

 

 

   GOEBBELS:

   - O que nós demandamos é novo, decisivo, e radical, revolucionário no sentido mais verdadeiro da palavra.

 

   HOVADICK:

   - "Alemanha acima de tudo"! Um conhecido slogan nazista o qual chegou a ser inserido no hino nacional alemão. Ah! Será que uma "certa pessoa" [aqui] não tomou carona na propaganda dos senhores, quando criou o lema Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”?

 

   HITLER:

   - Um novo estado não pode simplesmente cair do céu, em vez disso tem de crescer dentro das pessoas. Porque quando preciso de lealdade, convicção, confiança, fanatismo e compromisso, então eu devo virar-me para onde eu ainda posso encontrar estes valores e estes valores podem sempre serem encontrados nas próprias pessoas, nas massas do povo. Tu não és nada; teu povo é tudo.

 

 

   HOVADICK:

   - Bom, atualmente o Brasil está sendo massacrado pela chamada indústria de “Fake-News”, onde o que mais se ouve são mentiras e teorias da conspiração. O que os senhores teriam a dizer sobre isto?

 

   GOEBBELS:

   - Nós não falamos para dizer alguma coisa, mas para obter um certo efeito. Uma mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade.

 

   HITLER:

   - Quanto maior a mentira, maior é a chance de ela ser acreditada.

 

   HOVADICK:

   - O quê? Os senhores estão então defendendo as “Fakes-News”? Foi o que eu entendi?

 

 

    GOEBBELS:

   - A essência da propaganda é ganhar as pessoas para uma ideia de forma tão sincera, com tal vitalidade, que, no final, elas sucumbam a essa ideia completamente, de modo a nunca mais escaparem dela. A propaganda quer impregnar as pessoas com suas ideias. É claro que a propaganda tem um propósito. Contudo, este deve ser tão inteligente e virtuosamente escondido que aqueles que venham a ser influenciados por tal propósito NEM O PERCEBAM.

 

   HOVADICK:

   - E quanto ao senhor, caríssimo Führer Adolf Hitler, o que teria a dizer sobre isto?

 

   HITLER:

   - Não é a verdade que importa, e sim a vitória. Mas toda propaganda deve ser popular e estabelecer o seu nível espiritual de acordo com a capacidade de compreensão do mais ignorante dentre aqueles a quem ela pretende se dirigir.

 

 

   HOVADICK:

   - Mas, sendo assim, não seria preciso criar "crenças falsas e limitantes" na cabeça do povo? E de preferência “achar um culpado” para o que está acontecendo!?

 

    GOEBBELS:

   - Temos que fazer o povo crer que a fome, a sede, a escassez e as enfermidades são culpa de nossos opositores e fazer que nossos simpatizantes repitam isso a todo momento. Dê-me o controle da mídia e farei de qualquer país um rebanho de porcos.

 

   HITLER:

   - A propaganda não pode servir à verdade especialmente quando possa salientar algo favorável ao oponente.

 

 

   HOVADICK:

   - E pelo visto as coisas se fazem assim: de mentirinha em mentirinha as pessoas são conquistas, não é?

 

   HITLER:

   - Estimado Sr. Hovadick, coloque uma coisa em sua cabeça: As massas sucumbem a uma mentira grande com mais facilidade do que a uma pequena.

 

   HOVADICK:

   - E em razão de que muitos não acreditam em nada do que muitos líderes falam, enquanto outros acreditam em tudo, um país fica dividido, ou como a estar [atualmente aqui] numa espécie de “guerra civil”!

 

 

   HITLER:

   - A grandeza de toda poderosa organização incorporando uma ideia neste mundo repousa no fanatismo religioso e na intolerância com a qual fanaticamente se convencem de seus direitos, impondo com intolerância contra todas as outras.

 

   HOVADICK:

   - E em função disso um “nacionalismo nocivo” está cada vez mais visto entre certos apoiadores de um devido “nome” aqui!?

 

   GOEBBELS:

   - O patriotismo burguês é o privilégio de uma classe.

 

 

   HOVADICK:

   - Mas o que justifica alguém ser exageradamente “nacionalista”? Pergunto agora aos senhores. E quanto aos benefícios que recebemos de outros povos, a começar de suas culturas?

 

   HITLER:

   - Nunca acredite em ajuda estrangeira.

 


   HOVADICK:

   - Mas a verdade é que parece que estamos numa guerra contra nós mesmos. E tudo surgiu em função de uma polarização entre dois nomes, e sabendo que um deles exerce uma incrível influência sobre seus simpatizantes.

 

   GOEBBELS:

   - Sr. Hovadick, pelo que eu vejo não sabes muito a respeito de técnicas de propaganda. Serei aqui mais objetivo: Para convencer o povo a entrar na guerra, basta fazê-lo acreditar que está sendo atacado.

 

 

   HOVADICK:

  -  Bem, então essa mania de muitos em chamar um devido nome de “mito” é “efeito” de uma sutil propaganda de natureza ideológica? E quanto aos outros que não acreditam nessa balela?

 

   GOEBBELS:

   - Sr. Hovadick, irei fazer agora [a ti] uma confissão: Enfiar na cabeça dura das massas a devoção a Hitler, como o Deus da nova Alemanha, foi o meu objetivo único.

 

   HOVADICK:

   - Oh! Tenho que aceitar que na arte da manipulação das massas, os senhores são incríveis

 

   [Risos]

 

 

   HITLER:

   - Sei muito bem que se conquistam adeptos menos pela palavra escrita do que pela palavra falada e que, neste mundo, as grandes causas devem seu desenvolvimento não aos grandes escritores mas aos grandes oradores. E outra coisa mais, a ser como eu sempre falo: Torne a mentira grande, simplifique-a, continue afirmando-a, e eventualmente todos acreditarão nela.

 

   HOVADICK:

   - E qual é a tática para conquistar definidamente uma nação?

 

   HITLER:

   - Oh! Que sorte para os ditadores que os homens não pensem.

 

   [Risos e gargalhadas por parte de Hitler e Goebbels]

 

 

   HOVADICK:

   - Então quer dizer que “as coisas funcionam assim”?

 

   HITLER:

   - Tente entender a nossa posição, Sr. Hovadick: [Nós] só lutamos por aquilo que amamos, só amamos aquilo que respeitamos e só respeitamos aquilo que conhecemos. E outra coisa mais: Não se implora por direitos, se luta por eles.

 

 

   HOVADICK:

   - E com relação a este tempo (aqui no Brasil) em quem muitos demonstram claramente que perderam o juízo, estando cada vez mais agressivos e violentos, no que assim se portam dado à paixão por um certo nome, o que os senhores diriam?

 

   HITLER:

   - A ruína de uma nação só pode ser impedida por uma tempestade de paixão; mas só os apaixonados podem despertar paixão nos outros. Quem deseja viver, prepara-se para o combate, e quem não estiver disposto a isso, neste mundo de lutas eternas, não merece a vida.

 

   HOVADICK:

   - Durante o Governo de um certo nome, o qual é chamado por seus apoiadores de “mito”, foi observado que ele não queria parceria com os outros Poderes, sobretudo com o Judiciário. Ele não estaria se portando como um "autocrata"? Ou mesmo desejando ser... um ditador?

 

 

   GOEBBELS:

   - Abaixo ao parlamentarismo democrático.

 

   HOVADICK:

   - O Poder Judiciário é totalmente contra as chamadas “fake-news”, enquanto os apoiadores do “mito” dizem que estão sendo lesados em seu direito de “liberdade de expressão”, quando o que eles mais gostam de fazer é propagar mentiras. Mas, aqui eu acabo de me lembrar a famosa Bücherverbrennung, que foi a grande “queima de livros”. Não foi, então, um exemplo para que o povo ficasse, digamos assim, “desinformado” ou “menos culto”?

 

 

   HITLER:

   - A respeito do Poder Judiciário eu só tenho a dizer: Eles falam sobre liberdade de imprensa quando na verdade todos esses jornais tem um dono e, em todos os casos, o dono é o financiador. E então, essa imprensa molda a opinião pública.

 

   HOVADICK:

   - Ouvindo as vossas palavras, não há como não lembrar que o “mito” chama uma excelente emissora de televisão de “globolixo” e incentiva seus cegos seguidores a dizerem o mesmo. E está sempre usando de discursos de ódio. Ah! Acho que agora eu descobri de quem ele foi influenciado (pelo menos no que se refere à aversão aos jornalistas e meios de comunicação). E com relação ao Bücherverbrennung não seria como "o outro" fez quando então extinguiu o Ministério da Cultura?

 

   [Silêncio]

 

   HOVADICK:

   E com relação aos ataques violentos ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023 com todas aquelas depredações, destruição de patrimônios públicos e históricos (incluindo obras de arte), isso sem mencionar a incêndios e queima de veículos em dias anteriores, o qual davam todas as evidências de realizar um golpe de estado, qual o parecer dos senhores?

 

 

   HITLER:

   - A força não repousa na defesa mas no ataque. E é como eu penso: Desmoralizar o inimigo surpreendendo-o, aterrorizando-o, sabotando-o, assassinando-o. Temos de ser cruéis. Temos de recuperar a consciência tranquila para sermos cruéis.

 

   HOVADICK:

   - Acredito que ficará nos registros da História o que houve recentemente em Brasília.

 

 

   HITLER:

   - Uma luta desesperada permanece para sempre como um exemplo resplandecente. Recordemos a Leônidas e a seus trezentos espartanos!

 

   HOVADICK:

   - Mas, diz p’ra mim, caríssimo Führer [Hitler], qual foi a sua maior decepção com relação à Guerra? Certa vez o senhor disse (no que foram, então, suas palavras): “Se você ganhar, não precisa se explicar... Se perder, você não deveria estar lá para explicar”. O que me diz, então?

 

 

   HITLER:

   - Eu realmente achei que venceríamos.

 

   HOVADICK:

   - Bom, caríssimos senhores, está ficando tarde, embora a conversa está sendo boa, mas, se me dão licença terei que me despedir de vocês agora. Foi um bate-papo ao que eu diria, no mínimo, interessante. E que eu tenho certeza de que muitos teriam um grande proveito em escutar dos senhores o que aqui entre nós foi dito. Bom, caso eu queria encontrá-los novamente, seria indiscrição de minha parte em conceder seus endereços?

 

 HITLER:

- Estamos hospedados no Hospício Dom Pedro II, a que fica na Avenida Pasteur, número 250, na Urca. Caso queria, poderá nos encontrar lá. Foi um grande prazer conversar contigo.

 

 

   E com aquelas palavras, nos levantamos e [nos] despedimos. Saí da Colombo um pouco tonto, sem saber se tudo aquilo era real ou algo nascido de minha fértil imaginação.

 

16/01/2023

 

IMAGENS: INTERNET

 

MÚSICA: "CORTA JACA" ( DE CHIQUINHA GONZAGA" - EXECUTADA POR PRISCILA MATOS

https://www.youtube.com/watch?v=57yv7S1hBEE

 

Estevan Hovadick
Enviado por Estevan Hovadick em 16/01/2023
Reeditado em 22/01/2023
Código do texto: T7696495
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