MINIONS

As ações risíveis dessas criaturas para tentar tirar o governo eleito do poder, como orar na porta dos quartéis e pedir a intervenção de extraterrestres pareciam até então inofensivas. Em 8 de janeiro, todavia, descambaram para atos de barbárie como invadir a sede dos três poderes, destruir vidraças, móveis e obras de arte, roubar equipamentos públicos e defecar nos tapetes.

Não se pode afirmar que esses infelizes compõem propriamente uma classe social, já que provêm de distintas faixas de renda. Além da inerente parvalhice, têm em comum uma doentia devoção ao ex-presidente, ungido de poderes divinos.

Alguns chamam essa turma de ‘gado’. Considero o termo inadequado já que não se verifica entre eles homogeneidade bovina. Há gente de tudo quanto é tipo: madames espalhafatosas, aposentados, caminhoneiros, praticantes de artes marciais, CAC’s, policiais, milicos, garimpeiros ilegais, crentes, comerciantes, empresários e (pasme!) até médicos e engenheiros.

Na falta de um termo melhor, batizaram-nos de minions. O termo é inspirado nos personagens do filme de animação “Meu Malvado Favorito”, caracterizados por sua limitada inteligência e sua condição de vassalos do vilão Gru, assemelhado a nosso bizarro ex-mandatário, daí a derivação ‘bolsominions’, aqueles que acatam cegamente o que seu capitão-guru estabelecer.

A submissão incondicional dos minions a um líder primitivo desafia a interpretação dos sociólogos que não têm em suas referências históricas padrões equivalentes em nossa sociedade. Para melhor compreendê-los, talvez devamos recorrer à antropologia. Ao invés de estudá-los como atores sociais, melhor considerá-los como membros fanáticos de uma seita, já que suas motivações são guiadas por instintos primais de obediência a um brutamontes alçado à condição de mentor espiritual.

Para eles, o genocida que, no auge da pandemia, passeava alegremente de moto e jet ski, é um deus. Já o demônio é representado por um indivíduo barbudo de 9 dedos que merece arder eternamente nas chamas do inferno.

Não são incomuns referências a diversas sociedades cujos hábitos são determinados pelos caprichos de divindades semi-humanas acolhidos pelos lacaios. É recorrente entre algumas culturas a veneração a animais como a vaca, o elefante ou o gato. Mas é inédita a adoração a asnos.

Quase todos os minions são brancos mas é possível, entre eles, identificar alguns negros (de alma branca). Seria injusto dizer que todos são racistas, machistas e homofóbicos. Mas estaria inclinado a afirmar que todos os racistas, machistas e homofóbicos são minions. Ok, é exagero! Uns 98% são.

No passado, os minions eram pessoas alienadas, sem interesse por política, preocupados com assuntos triviais. Foram manipulados por grupos radicais para servir como massa de manobra a seus interesses maléficos. Através de mensagens do WhatsApp, esses coitados foram convencidos a desfraldar a bandeira por temas que fogem à sua realidade.

Pacatas donas de casa que passam os dias à frente da TV de repente começaram a discutir as limitações constitucionais das atribuições do STF. Fãs de filmes de ação passaram a opinar sobre as distorções da lei Rouanet. Crédulas, fiéis aos pastores que nunca abriram um jornal desandaram a discorrer sobre as virtudes do neoliberalismo.

Os cientistas sociais fundem os neurônios para explicar o surgimento de figuras estapafúrdias como ‘religiosos armamentistas’, ‘democratas extremistas’, ‘liberais autoritários’, ‘capitalistas sem-grana’, ‘médicos antivacina’, ‘supremacistas negros’, ‘gays machistas’ etc.

Na verdade, não passam de pessoas ocas, amorfas, mortos-vivos que durante décadas omitiram-se de se envolver nas questões nacionais e de repente saem de suas catacumbas fantasiados com a camisa amarela da CBF para salvar o país do comunismo ateu.

São enfim inocentes úteis, sem capacidade de discernimento. Por trás deles, há gente graúda com projetos tenebrosos de poder. Pessoal do agronegócio que visa transformar florestas em pastos. Militares com polpudos soldos, saudosos dos tempos da ditadura. Grupos evangélicos que querem impor uma república teocrática. Facções neonazistas visando minar a democracia. Grandes proprietários empenhados em impedir reformas sociais. Esses agentes ocultos permanecem ilesos, conspirando na surdina enquanto os minions por eles instrumentalizados não conseguem entender por que estão sendo levados para o xadrez.

Mas os minions, não são dignos de nossa compaixão. Não são apenas os fofos personagens do desenho animado. Voluntariaram-se a prestar-se a esse papel ridículo de coveiros da democracia. Como poderão no futuro justificar perante seus filhos que estavam ajudando a aplicar um golpe de Estado para defender seus interesses mesquinhos ou os de pessoas inescrupulosas que os fizeram de fantoches?

Fazem jus a nosso repúdio e mereceriam pegar uns tempos de prisão para refletirem sobre o mal que fizeram ao país.

sergio sayeg
Enviado por sergio sayeg em 18/01/2023
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