Sincronicidade ou mero acaso

Em sua obra sobre a sincronicidade, Carl Gustav Jung formula uma ideia, em parceria com o então futuro ganhador do Nobel da física, Wolfgang Pauli, acerca das chamadas coincidências significativas, que, segundo os dois cientistas, são conexões acausais, isto é, fenômenos que parecem seguir uma lei que não obedece a relação de causa e efeito; portanto, um fenômeno que atua em um campo fora da lógica positivista-materialista da ciência moderna, um evento de energia mental-espiritual.

Levando em conta todas as crenças que as pessoas têm, desde as principais religiões até métodos com um teor mais esotérico, como horóscopo ou mesmo tarô, as conclusões que Jung e Pauli chegaram são bem interessantes. Em certo trecho da obra, é discorrido sobre uma influência direta sobre as pessoas conforme seus nomes de batismo. Assim, ele mesmo, Jung (jovem), professa sobre a ideia de reencarnação; Freud (alegre), defende o princípio do prazer; Adler (águia), é defensor da vontade de poder e assim por diante. Ou seja, a simbologia é o que move o inconsciente coletivo, agindo nos mais diferentes campos da psíque humana, tanto individual como em grupo.

Outro dia, parando para devanear um pouco sobre esse assunto, pensei na possibilidade de outros fatores, além do nome, poderem influenciar nossas vidas.

Eu nasci dia 14 de julho de 1989, exatamente duzentos anos após a queda da Bastilha. Será que este fato causou algum impacto sobre minha personalidade? Será que há o germe da revolução no âmago do meu ser? Matutei um bocado sobre esse interessante trabalho mental e continuei o raciocínio partindo de umas das mais tradicionais formas de lidar com o mundo extra-material: os signos do zodíaco. Será que as pessoas que nasceram no mesmo dia que eu têm algo em comum comigo em relação aos traços de personalidade? Fazendo uma breve pesquisa na internet sobre os nascidos em 14 de julho, deparei-me com uma enorme lista, na Wikipédia, dos cancerianos nascidos na data de comemoração da revolução francesa. Passando rapidamente os olhos pelos nomes, três foram os quais me chamaram mais a atenção: Ingmar Bergman, escritor e diretor sueco de cinema, teatro, televisão e rádio; Northrop Fry, crítico literário canadense, autor da fenomenal obra Anatomia da Crítica; e Ían Nepomniachtchi, enxadrista russo, top três no ranking mundial atualmente.

Quando selecionei essas três personalidades dentre as figuras mais interessantes da lista, a questão sobre as suas personalidades caiu por terra, afinal, eu estava diante de três pessoas extremamente influentes em três das minhas maiores paixões: O cinema/teatro, a teoria da literatura e o xadrez.

Deixo aqui a pergunta: o fato do livro de Fry ser um dos meus de cabeceira, estando sempre por perto para que eu possa estudá-lo sempre que necessário, já que o tema é essencial para o profissional das letras; também o fato do xadrez ter sido umas das minhas maiores descobertas do último ano, fazendo eu jogar cerca de cinquenta partidas por dia, além de analisar as partidas desse que é um dos meus grandes mestres favoritos, o russo mais conhecido como Nepo, e que Ingmar Bergman esteja na lista dos meus diretores de cinema prediletos, por conta de clássicos como "Através de um espelho" e "As melhores intenções", será que esses fatos são meras coincidências ou emana uma certa energia gravitacional em minha direção advinda dessas personalidades e de suas respectivas paixões, as quais também são as minhas?

Igor Grillo
Enviado por Igor Grillo em 20/01/2023
Reeditado em 31/03/2023
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