Cavaleiro do Passado
Sou um guerreiro de luz, não tenho preconceitos, não recolho temores, não guardo mágoas.
Sou noite.
À vida, não pertenço mais, me perdi nas estrelas e fiquei completamente inebriado por sua beleza. Perdi-me no universo: um nômade errante sem honra ou glória, sem virtudes, sem armadura ou espada.
Nú.
Contemplando o manto negro que se estende sobre minha querida humanidade, desejando melhoras à Terra que geme em dores de parto. Seus filhos a ferem, seu ventre sangra, suas lágrimas me afogam pouco a pouco, dão banhos de sal nas feridas abertas nas costas. E arde, e dói… queima.
Atos heróicos distribui aos quatro ventos. Resgatei donzelas presas em altas torres, proferi golpes mortais em corações de dragões e corri fugido de muitas tribos tupi guaranis. No final, acabava sentado em meio a uma clareira, sentindo a brasa queimar e iluminar as faces.
Estava seguro, feliz e completo.
Entretanto, as coisas mudam, pessoa envelhecem e a natureza mãe começa a reclamar pela alma dos filhos. Comigo não foi diferente. As pernas enfraqueceram, os músculos se tornaram flácidos, meu rosto, antes bonito e repleto de heroísmo resgatado de duelos passados, agora jaz com enormes cicatrizes e um mapa de rugas. Rugas de sal, rugas de chuva, sinais do tempo.
Hoje não tenho mais aventuras, não salvo moças em perigo e nem de indígenas fujo com louvor. Passei por um enorme portal: “dessa para melhor”, como minha queria avó diria. Mas, ainda assim, sinto que não fiz tudo o que queria fazer. De muitas fui dono, mas nenhuma fora minha, inúmeras terras possuía e herdeiro algum para compartilhar, riquezas e histórias incontáveis, porém amigos não cultivava para contar.
Finalmente, estava oco.
Uma casca de coragem que logo murchou. E o tempo? Ah, ele não me esperou… estava com muita pressa e rapidamente passou.