A Roda do tempo

O Shopping Center atualmente corresponde às necessidades dos jovens, que na sua maioria, não resistem ao apelo das propagandas veiculadas por jornal, revista, televisão, outdoor.

Uma das vantagens do Shopping é concentrar interesses: compra, lazer, alimentação, educação, além de oferecer segurança - item de preocupação dos pais.

Há que se evocar a indiscutível influência dos países estrangeiros, trazendo novidades, sugestões geradoras de novas atitudes, outros comportamentos.

Nesse particular, do advento do Shopping duas queixas são marcantes: uma, a saudosista, a outra, a econômica.

Os amantes nostálgicos das pracinhas com coretos, jardim, fontes, pipoca e algodão doce, comentam o abandono de um hábito salutar em preferência ao ideal alheio, vindo de fora. Dizem que antigamente o namoro que ali se realizava, nada que ofendesse o pudor reclamando censura por sem-vergonhice. Que não se namorava com, mas alguém. Verbo transitivo direto, namoro era ato de encanto, admiração, exercido com os olhos. A masculinidade não era comprometida ou posta sob suspeita. Mas tudo era questão de regra, cujo conhecimento envolvia etapas graduais.

No entanto, transposta a fala a outro de mesma geração, este contesta e afirma não ser tão puro ou cor-de-rosa assim! Que havia farsa e repressão, mas que muitos transgrediam e graças a esses heroísmos, os tabus sendo quebrados, novas gerações eram premiadas com o doce da liberdade, do direito de escolha. Que além dos transgressores, havia os estrategistas que sorrateiramente faziam de tudo e passavam ilesos: fumavam, bebiam (o que passarinho não bebe) e folheavam sacanagens, aquisição clandestina, e tiravam de casa sem galgar o altar da santa igreja.

A jovem que escutava aquele diálogo, achou simpatia no argumento do segundo, pela aproximação da sua juventude. E defendendo a geração shopping, aduziu a realidade das ditas pracinhas, ora relegadas ao abandono, sem policiamento, palco de mendigos e visitas frequentes dos tomadores do alheio. E na questão de cópia, os próprios avós concordam que só não se copia o que não presta.

A queixa econômica advém dos que ficaram para trás, sem poder de acompanhar o ritmo da concorrência. São os pequenos comerciantes, lojistas sem recurso disponível ou suficiente para associar-se, instalando-se num Shopping. E lamentavelmente vão sendo esquecidos, quando os ares dos acontecimentos comerciais mudam de lugar, de bairro. Desafiados à reação, uns mudam a natureza do comércio, contrariando a vocação; outros arrendam o local; aqueles prosseguem a pouco ou nenhum lucro e esses definitivamente submergem ou desistem.

Vencendo a lógica da estima de querer o melhor a si, a mais ou menos cem metros da pracinha, ergue-se um novo Shopping (lotadíssimo aos sábados, a geração teen prevalecendo) no local em que justamente existiu um Armarinho.

Seraphim
Enviado por Seraphim em 26/01/2023
Código do texto: T7704369
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