24 horas de tensão

O diagnostico médico foi como um tsunami: - apenas 24hs ou menos de vida lhe resta. Foi extremamente profissional sem titubear o homem do outro lado da mesa. Por alguns instantes conseguiu ouvir o barulho do tic-tac do relógio na parede um modelo do século XVIII. As pernas ficaram pesadas de repente, os pensamentos um turbilhão, não conseguiu ouvir mais nada, assim que bateu a porta atrás e então observou a sala de espera abarrotada de pessoas um grito extremamente estridente de uma criança, uma idosa com um copo d'água na mão, uma mulher de meia idade com as pernas cruzadas cutucando o celular. A recepcionista lhe disse algo que ele não lembrava mais, desceu as escadarias segurando no corrimão. Passou pela porta de vidro, olhou os carros passando de um lado para o outro na extensa avenida, foi caminhando pela calçada, agora com lágrimas percorrendo sua face, em soluços, uma dor dilacerante no peito, entrou no estacionamento enxugando as lágrimas com as mãos, caminhou até o guichê deu o dinheiro ao funcionário do local que lhe entregou a chave do carro. Ao entrar no seu carro ajeitou no banco, as lágrimas voltaram agora com mais intensidade, um nó na garganta, a cabeça começou a doer. Pensou na sua esposa, seus filhos, na única irmã, nos familiares, amigos, pessoas a sua volta. Na sua história construída ao longo de seus 46 anos. No seu gênio forte, em algumas brigas profissionais e pessoais. Neste momento o telefone tocou, não quis atender. Deu partida saiu com o seu veículo do local ainda ao sair apenas ouviu a buzina que soou de forma ensurdecedora misturada com um barulho de freio, a mulher ao volante, esbravejando todos os palavrões possíveis. A preferencial era da mulher que continuava a esbravejar, um movimento de carros já se formando, ecoando buzinas pra todos os lados. Ele saiu devagar e rapidamente engatou as marchas, agora já percorrendo a avenida, virou a primeira direita, depois seguiu em frente, depois virou a esquerda. O telefone tocando... olhou no retrovisor acionou a seta do lado direito, parou debaixo de uma árvore. Pegou o telefone. Verificou que era a sua esposa. Olhou o aplicativo de mensagens, diversas mensagens por lá, diversas chamadas. Discou o número da sua esposa enquanto a dor de cabeça aumentava. No primeiro toque ela atendeu a voz soou preocupada do outro lado da linha. Conversaram alguns minutos, uma batida na porta, outra batida na porta agora mais forte, olhou e viu um homem alto, magro, cabelos pelos ombros. Abaixou o vidro, e viu o cano da arma apontada para a sua cabeça. Vai sai do carro, esbravejou o magricelo! Ele sem titubear disse para o homem:- atira. Faz este favor! O assaltante pareceu não acreditar, deu uma coronhada na cabeça do homem. Ele sentiu o sangue quente descendo em sua face, meio tonto, ainda sentado no banco. O magricelo tentou abrir a porta do carro enquanto o homem de dentro do carro tentava recobrar a consciência. Num impulso agarrou a arma do bandido ao mesmo tempo que abriu a porta jogando-o para trás, saiu chutando o magricela pra todos os lados, pontapé na barriga, no rosto, foi pra cima igual uma leoa atacando a sua presa. Agora sangue jorrando pra todos os lados, o magricela soltando uivos de dor, tentando se recuperar do ataque surpreendente do seu oponente, ouviu barulho de sirenes ao longe, rapidamente viu as pessoas se aglomerando. Os policiais descendo da viatura com armas empunhadas, um outro puxando ele pela cintura, enquanto a policial tacou-lhe as algemas nas mãos do magricela dando voz de prisão. Ele ainda jogando o corpo de um lado para o outro tentando resistir a prisão, um outro policial ajudou a conduzi-lo até a viatura, jogou o magricela lá dentro. Enquanto isto uma salva de palmas ecoando pelo local, o homem sendo socorrido pelo bombeiro que já havia chegado. Um corte profundo na lateral do crânio, viu o policial conduzindo a arma do ladrão dentro de um saco plástico. Viu quando o homem fardado aproximou-se lhe estendendo as mãos deu um aperto em agradecimento. O bombeiro colocou ele na viatura enquanto o seu carro era conduzido por outro amigo de profissão. As sirenes ecoando, foi distanciando da multidão, alguns repórteres por ali, agora várias viaturas policiais. Assim que encostou a sua cabeça na maca tudo escureceu. Ao acordar no hospital ainda meio sedado pelos medicamentos com a sua esposa lhe segurando a sua mão direita, descobriu que o homem que o atacara tratava-se de "um foragido, conhecido como Toninho boca de lobo " com vários homicídios praticados, tráfico de drogas, estupros, uma lista extensa de crimes. As noticias estavam estampadas nos principais veículos de comunicação. Milhões de visualizações nas redes sociais, uma mulher havia filmado tudo. Do lado de fora do hospital as redes televisivas não se falavam em outro assunto, e os repórteres esperavam ansiosos pela saída do herói desconhecido. De repente o médico adentrou a sala já passara mais de 24 horas do ocorrido. Ele pergunta:- Como está se sentindo? O homem responde:- Bem doutor, graças a Deus. A mulher do paciente da um sorriso largo e lhe afaga a cabeça. O médico então olha para o painel que está a sua frente fazendo a leitura dos batimentos cardíacos, verifica os olhos, pede para o homem abrir a boca e colocar a língua pra fora. Faz uma pausa, avisa quem em breve receberá alta. Sete pontos no couro cabeludo, alguns arranhões pelo braços e pernas, um leve hematoma do lado esquerdo do rosto. Antes que o médico saísse da sala o paciente disse:- doutor, recebi um diagnostico que teria apenas 24 horas de vida ou menos, por outro colega de profissão. O doutor franzi a testa parecendo surpreso, mas qual o diagnostico? Um tumor cerebral. O médico agora parece chocado com a noticia e a esposa do paciente mais ainda. Então o médico diz: - Impossível. Fizemos vários exames, inclusive uma tomografia computadorizada, o senhor está saudável. Do outro lado da cidade no consultório que o doutor deu o diagnostico a secretaria entra nervosa e chorando na sala do médico que assusta dizendo:- o que houve Dolores? Doutor, desculpe agora que observei as fichas e exames que foram trocados. O médico parece aturdido com a noticia. - Que fichas Dolores? Qual paciente? Quando? A mulher está trêmula e sua boca vai esbranquiçando, não consegue mais falar, cai. O médico age rapidamente apalpa a carótida nenhum sinal, verifica os pulsos nada. Sobe encima da mulher e começa a manobra cardiorrespiratória mantendo o braço esticado fazendo a compreensão no peito da vitima já gritando a outra secretaria e pedindo que acionasse a ambulância. Vamos Dolores, reage! O suor do médico lhe escorrendo pela testa e rosto. Fazendo de 100 a 120 compreensões por minuto. Esta ofegante. Outros médicos adentram a sala e fazem o revezamento. A ambulância chega rapidamente com todo aparato necessário, a primeira descarga o quadril da mulher levanta abruptamente e volta ao chão rapidamente, enquanto faz a verificação no pulso, nenhum sinal vital. Segue nos próximos 45 minutos sem sucesso. Veio a óbito. A tarde está caindo com nuvens mesclando num tom alaranjado trazendo um realce exuberante, lá no horizonte uma araucária adorna ainda mais a paisagem ao som dos pássaros que flutuam no céu, é o final do verão...

LUVI
Enviado por LUVI em 29/01/2023
Código do texto: T7706615
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