Passagem

30/01/2023

Hoje, quase último dia de janeiro, um mês arrastado através dessa transição de um ano e outro. Não tenho nada resolvido, apesar de ter ajeitado algumas coisas no meu coração. Tudo parece demandar muito esforço e estou tendo dificuldade para me achar importante o suficiente, digno desse gasto de energia. Tudo é muito burocrático. Trocar meu nome é conversa de papel com papel, alugar uma casa é busca e determinação, conseguir o dinheiro é inssistencia e persuasão e fora estas coisas principais tenho que me lembrar que estou em formação de arquiteto, em formação comunista, em formação transsexual, que tenho família, que tenho relacionamentos, que tenho de tratar e respeitar minha saúde mental, que há desigualdade, que os vizinhos as vezes me olham diferente atravessado, que preciso varrer o chão, responder as mensagens, iniciar conversas, tratar da saúde e as coisas se ramificam infinitamente sem que eu consiga sequer eleger uma só prioridade para os dias da frente. Também não me levo a sério o suficiente pra isso. A verdade é que quero tomar cachaça, beber uma comprimidos e não ter problemas como todo mundo. E que apesar de sempre estar precisando da solidão, me sinto completamente inútil quando estou com ela. Não consigo resolver nada na frente dos outros, nem por detrás. Estou sem energia pra vida, precisando e buscando orientação, mas sem conseguir confiar em ninguém o suficiente. Sempre acho uma brecha, nelas ou em mim, que me impede de ser um cão fiel das ideologias que me movimentam. Ou não tenho paciência para engolir as ideologias inteiras antes que elas me coloquem em movimento, como um veículo que abastece, mas nunca sai da reserva. Não tenho nada pra acreditar e tenho falhado em desacreditar, porque tenho uma personalidade muito dócil, muito sucetível que me precede em quase todas as linhas de raciocínio. Estou sempre consentindo. Sempre abstraindo a raiva em outras formas enigmáticas que não posso prever a manifestação. Me parece que subitamente me torno mesquinho, ou que subitamente quero me mutilar, ou que de lugar nenhum encontro inseguranças em relação as pessoas q me rodeiam porque a raiva passa invisível e cifrada pela parte debaixo da minha mente antes de ser executada no topo. Faço uma ressalva de perdão aos neuropsicologos que estão submetidos a barbárie desse meu raciocínio de desenvolvimento de sentimentos, com está ideia de baixo e alto da mente, mas é assim que consigo vizualizar a raiz mecânica das minhas ideias e da minha vida. Gosto muito das coisas materiais. Gosto muito de ver. É quase minha parte favorita da vida. Não apenas ver com os olhos, mas ver com a cabeça. Decifrar. Sobrepor. Potencializar. Mas também é assim que tudo se mistura e nada conversa com nada e tudo pode se esvaziar subitamente, ou aparentemente subitamente, como eu vinha argumentando. Enfim, também não levo esse texto aqui muito a serio, então vou resolve-lo com um fim e vou varrer a casa.

Nia Ferreira
Enviado por Nia Ferreira em 30/01/2023
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