Para que serve a Literatura?
Minha última publicação no "Recanto das Letras" faz onze anos.
Não me lembro exatamente porque deixei de visitar este espaço, mas deixei. A Literatura sempre me foi vida e deixar o Recanto coincidiu com o meu mais longo ócio criativo. Pelo menos nas letras.
Essa abandono compreende entre meus 27 aos 38 anos. E de lá para cá, imagine o leitor, quantas vivências e memórias adquirimos?
Talvez eu tenha perdido tempo, mas posso dizer que esses anos foram os mais importantes da minha vida. Tive a oportunidade de amadurecer melhor minha relação com a arte.
Distinguir literatura e ego.
Não digo que não escrevi neste tempo. Mas foram rascunhos. Aliás, como este aqui. Revisitei cada um dos meus textos e tive a incrível sensação de discordar com meu eu anterior.
Falei da minha experiência pessoal, mas não respondi. Para que diabos serve a Literatura? Criei o hábito de evitar certezas. Mas quero trazer algumas possibilidades.
Para mim, sempre me foi claro que a música é a arte dos sons. A dança, a arte do movimento. A pintura, a arte essencialmente visual. Mas não me ficou clara essa mesma correlação diante da Literatura.
Afinal, o que faz de um homem como Manuel Bandeira artista?
É a linguagem? A retórica? o "feeling" social?
Não creio.
Imagino que o que faz de Bandeira autêntico seja a capacidade de dizer. A catarse mental desencadeada a partir do que é dito.
O mau escritor pode escrever bem, mas não diz nada. Sua prosa pode ser lida, compreendida, mas não transforma. Não faz ferida. Não cria cicatriz.
A arte literária tem se confundido com tudo. Com proselitismo, com o "falar difícil" e até com afetações acadêmicas. E cada vez menos pessoas sentem nas Letras aquele êxtase sublime, aquela mágica que vem de dentro e te dá uma surra íntima.
Pouco a pouco nossas letras foram empurradas dos Saraus para as "grades" disciplinares. E sendo grade, aprisiona ao invés de libertar. Literatura não é disciplina. É ARTE. E se está na escola, deve ser ensinada como tal.
E, de repente, chego a uma outra conclusão pessoal: - "A Literatura é a arte do dizer."
Não me refiro a escrever, tampouco proclamar. Refiro-me a DIZER.
Quando dizemos, estamos trocando alma com quem nos ouve.
Mas falar, podemos fazer sozinhos.
Como arte, a Literatura precisa reapresentar-se aos cafés, aos boêmios, aos vadios, ao flâneur da cidade. Reapresentar-se aos saraus e aos botequins.
Precisa se reapresentar, enfim, àquela palavrinha no ouvido na hora incendiária das paixões.