CASA DOS PRAZERES

Contam que lá pelos idos de 60 a 70, havia na Ladeira da Montanha um local de má fama frequentado como tantos outros daquele logradouro pela boemia da época, por políticos que ali compareciam em busca de libertinagem extra conjugais e para deliberarem sobre politicagem, evidentemente.

No local encontrava-se a nata da malandragem em busca de prazeres e ganho fácil à custa de exploração de incautos em jogos de cartas em que, devidamente acompanhados por prostitutas mancomunadas com rufiões os embebedavam e os incentivavam a aventurar-se no jogo de cartas em que, em pouco tempo estavam a expor os bolsos pendentes das calças totalmente vazios.

Não raro, desfaziam-se de relógios, cordões de ouro ou prata e até mesmo anéis e alianças na esperança de reverter a situação e recuperar o que haviam perdido.

Frequentadores contumazes do Castelo como era conhecido o casarão, muitas vezes e sem alternativa, conhecidos que eram, comprometiam-se com a dona do estabelecimento em prover oportunamente as despesas pendentes ficando o pagamento das dívidas para ocasião futura.

Por ter conseguido crédito de suas dívidas retiravam-se nas madrugadas cambaleando ladeira abaixo ou acima conforme seu destino de casa. Na maioria das vezes, quem sabe estimulados pelo forte odor de amônia, acabavam parando em algum poste a fim de esvaziar a bexiga antes de ir para casa.

E no ambiente em que acabara de sair prosseguia a noitada com os malandros satisfeitos por terem explorado os patos comemorando com cachaça e cerveja juntos com suas cúmplices que atraiam os clientes desavisados para serem devidamente depauperados.

Assim eram as noites naquela ladeira e em tantos outros logradouros da região que serviam de aventuras para quem procurava diversão e sexo.

Havia no lugar entretanto, uma condição estabelecida para a frequência:

Não se permitia alvoroço de qualquer espécie, primando pela boa conduta a fim de preservar-se a paz nos ambientes, de modo que não se desse motivo para o comparecimento de meganhas ou da mista (como era chamada a polícia da ditadura formada por militares da Marinha, da Aeronáutica e do Exercito) cujos componentes truculentos com seus capacetes cobrindo-lhes a fronte, mal se vendo os seus olhos, que já chegavam arregaçando com seu cacetetes envernizados apelidados de fanta, e sem falar nada acabavam com a farra baixando o cacete e mandando alguns para os hospitais e os demais sendo conduzidos presos para averiguações. Os malandros se cagavam de medo quando alguém gritava:

- Corre que lá vem a mista. Não ficava ninguém.

Outra condição era que no final do mês quando saía o pagamento da Marinha o casarão era reservado aos militares que ali compareciam a fim de desafogarem suas mágoas e em busca de diversão, de modo que os corriqueiros frequentadores naqueles dias não compareciam para não acontecer atritos, uma vez que as moças da casa se colocavam a disposição dos homens da Marinha.

Ali compareciam os militares do segundo distrito naval, da escola de aprendizes marinheiros, dos fuzileiros navais e até da base naval de aratu. Era farra durante toda a noite ao som de samba de roda, twist, bossa nova ou foxtrot. E quando aportava em Salvador navios da Marinha, da mesma maneira lhes era dada a preferência ficando tudo a disposição das tripulações.

Era comum as rodas de malandros na praça Castro Alves ou próximo ao pé da ladeira pois não se atrevia a subir ou descer a ladeira e enfrentar a turma da Marinha.

Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 02/02/2023
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